segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tacere têm nova vocalista

Os Tacere apresentaram a finlandesa Taiya R. como a nova vocalista que vem substituir Helena Haaparanta. Nas palavras do líder da banda, Karra Knuuttila, “ficámos espantados com a quantidade de cantoras, dos quatro cantos do mundo, que concorreram para o lugar. Tomar uma decisão foi muito difícil e havia muitas candidatas talentosas, algumas das quais bastante conhecidas e já com um certo status. Mas na Taiya encontrámos a cantora perfeita: é extremamente talentosa, tem uma aparência fantástica, uma atitude muito fixe e boa presença em palco e, muito importante, uma personalidade que encaixa perfeitamente com a banda”.

Para além da nova vocalista, os Tacere também contrataram um novo teclista: Veli-Matti Kananen, que tocou com bandas como os Poisonblack e os Eternal Tears of Sorrow.

Os Tacere estão a planear entrar em estúdio em Fevereiro para iniciarem as gravações do successor de Beautiful Darkness. Ainda não foi anunciada qualquer data de lançamento, mas algumas demos já estão disponíveis no myspace onde já pode ser ouvida a voz de Taiya.

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Myspace

Exilia lançam novo álbum em Janeiro

Os italianos Exilia lançarão um novo álbum a 30 de Janeiro, entitulado My Own Army, através da AFM Records. O longa-duração foi gravado nos Principal Studios na Alemanda. Dave Chavarri, baterista dos Ill Niño, produziu alguns dos temas e Cristian Machado, vocalista da mesma banda, contribuiu com a sua voz.

Segundo a vocalista Masha Mismane, este será o álbum mais pesado da carreira da banda. “Conseguimos revelar os talentos escondidos do nosso grande guitarrista, o Alien, e com o regresso do nosso grande baterista, o Ale, não faltará poder!”, prossegue. Masha também afirmou estar muito satisfeita com a sua prestação vocal neste álbum.

A banda também já revelou a artwork:

















sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

REVIEW - Within Temptation - Mother Earth [2001]

Tracklist

1. Mother Earth
2. Ice Queen
3. Our Farewell
4. Caged"
5. The Promise
6. Never-Ending Story
7. Deceiver of Fools
8. Intro
9. Dark Wings
10. In Perfect Harmony

Bonustracks
11. Restless
12. Bittersweet
13. Enter (live at Utrecht 1998)
14. The Dance (live at Utrecht 1998)



Se disser que sempre desejei fazer uma review deste álbum, talvez seja difícil de acreditar que foi a review que tive mais dificuldade em escrever. Conheço este Mother Earth (ME) melhor do que a palma da minha mão. Conheço cada nota, cada palavra cantada. Para escrever sobre ele vejo-me obrigada a ultrapassar esses valores emocionais e prender-me aos estritamente musicais. A isto vem juntar-se a premissa que vai justificar tudo o que vou escrever em seguida: este é o álbum da minha vida. Marcou uma viragem para mim em termos musicais e pessoais e tem, por isso, um lugar de destaque entre as minhas preferências. Portanto, esta review será total e completamente parcial. Considero que os Within Temptation (WT) cresceram e se tornaram excelentes no que fazem, mas ME é, e será sempre, um clássico do metal sinfónico e o diamante em bruto da uma carreira fulgurante.

Primeiro, os inevitáveis dados informativos. ME é o segundo longa-duração de estúdio dos WT e a sua afirmação dentro daquilo que melhor se fazia no plano do metal sinfónico. No que respeita às letras, estas reflectem um imaginário fantástico, entre temas de conotação amorosa, mas também com um pendor claramente crítico de reflexão sobre a actualidade. Os WT compõem melodias brilhantes de piano e teclados, algo evidente neste álbum que é no fundo a harmonização quase perfeita entre peso e melodia.

O tema título é a obra-prima por excelência dos WT. Esta faixa tem um significado muito especial para mim e a tentativa de fazer uma descrição dela é um trabalho deveras inglório. Quem nos lê, conhece com certeza Mother Earth e tem as suas próprias sensações e emoções ao ouvi-la. Em termos estritamente musicais, estamos perante uma composição muito bem construída, que começa com o som dos teclados dançantes, aos quais se juntam as guitarras e secção rítmica. Esta é capaz de ser a introdução mais avassaladora que já ouvi num tema de metal sinfónico. As influências celtas harmonizam-se de forma plena com o peso do metal. A bateria constrói um ritmo coeso e tribal que guia a composição, marcando o momento mais lento entregue aos coros gregorianos. O que dizer da voz de Sharon den Adel? Bom, só ela é capaz de alcançar tais notas desta forma, ponto final.

Segue-se o hino da banda, o single que a catapultou para uma fama que ate aí desconheciam. Ice Queen foi o tema que me deu a conhecer os WT. A minha primeira reacção foi pensar que nunca tinha ouvido nada assim. E não há dúvida de que não soa a nada do que se fazia na época: era forte e catchy, absolutamente novo e fresco. Desnecessário será referir os conhecidíssimos “oohooh”, aquele súbito silêncio antes de a música explodir com um riff de guitarra que se recusa a sair da nossa cabeça por muito tempo. Mas realmente impressionante é a voz que ouvimos sair das colunas e que me deixou boquiaberta nessa primeira audição. Também nunca tinha ouvido uma voz assim, vibrante e aguda, atingindo notas quase impossíveis. Absolutamente viciante – ou não fosse este o tema que fecha com chave de ouro todos os concertos da banda.

Our Farewell é a balada da carreira dos WT. Com uma melodia de piano bela e complexa, esta faixa é de uma sinceridade e emoção palpáveis. Começa de forma delicada e suave, com a voz de Sharon quente e profunda sobre o piano. Um arrepio percorre o ouvinte quando a bateria e as guitarras se lhes juntam. A música cresce grandiosamente, mergulhando num solo de guitarra e atingindo um pico final, com a voz de Sharon a elevar-se até ao clímax final.

Caged é o tema irmão de Mother Earth, tendo uma estrutura semelhante e um dos meus favoritos. A entrada das guitarras arrepia e a voz desce aos confins da terra e sobe ao céu para nos dar uma das suas melhores prestações neste álbum. Sharon adopta aqui o tom que mais gosto: melífluo e teatral, entrelaçand0-se nos coros dramáticos. As guitarras marcam presença, criando ritmo e adicionando peso.

The Promise é um tema monumental, na verdadeira acepção da palavra. A introdução suave e simultaneamente densa, com o órgão a transportar-nos directamente para tempos antigos, é inesquecível. O som cresce e explode, guitarras e órgão lançam-se numa dança desenfreada, dando lugar à voz de Sharon, que faz uma aparição gloriosa e dramática, que nos introduz nesta história de perda e vingança. Mais uma prestação vocal de excelência, mais um momento musical brilhante.

Neverending Story remete para as influências celtas que se evidenciavam nos WT desta época. Como o nome sugere, trata-se de uma canção-conto, uma estória simples mas produnda, cantada por sobre a melodia de piano e apontamentos de bateria.

Segue-se Deceiver of Fools, uma autêntica epopeia musical e mais um dos grandes temas deste ME. A introdução é magistral contando com a presença de um coro ao qual se junta a voz de Sharon. Uma suavidade perturbadora que cedo dá lugar a momentos verdadeiramente épicos. A bateria faz-se anunciar, seguido dos teclados que tocam uma melodia que mais parece um chamamento para a batalha. A voz de Sharon enceta uma narração cantada que culmina com um dos refrães mais vibrantes da carreira da banda. Como na grande maioria dos temas, a composição lírica de Deceiver of Fools transporta-nos para uma história que carrega consigo uma crítica acutilante ao mundo actual, naquela que é uma das melhores letras que já compuseram. No característico momento mais calmo da música, o piano saltitante tece a melodia complementada pelo tom mais doce de Sharon que se ergue num aviso perturbador, realçado pela música que acelera novamente. Composição finalmente entregue às melodias de teclados e guitarras, até o refrão a dominar novamente e deixar no ar uma questão: “Deceiver of Fools, shall he rule again?

Segue-se um curto interlúdio musical, que concorre para a explosão musical que é Dark Wings, uma das melhores malhas do álbum. Os ritmos sincopados atacam-nos logo ao início e a voz ameaçadora de Sharon canta quase num grito, intercalando-se com um coro de vozes femininas. Nesta composição temos a oportunidade de escutar um excelente momento instrumental com a voz de Sharon a aflorar em devaneios orientais, e os teclados a multiplicarem melodias a grande velocidade. A música serena apenas para acelerar novamente com a entrada dos coros e um formidável solo de guitarra, cortesia do quase lendário Arjen Lucassen (Ayreon).

Perfect Harmony apresenta reminiscências de uma Pearls of Light do álbum Enter, transportando-nos para uma floresta misteriosa e uma estória de encantar. Destaque para as melodias suaves e saltitantes e para a interpretação doce de Sharon.

A reedição de 2003 de ME, inclui ainda 4 faixas bónus: Restless (classical remix), Enter e The Dance (performance ao vivo em Utrecht, 1998) e a faixa inédita Bittersweet, na qual se destaca o som das flautas e piano, naquela que é uma das interpretações mais belas de Sharon.

ME é, para mim, o álbum da carreira dos WT, revelando o seu talento na combinação de atmosferas e peso e na composição de melodias. Aquilo que ainda hoje torna a sonoridade desta banda única é esse conhecimento intuitivo da melodia e a maneira como esta chega até nós, apoiada numa voz única. Toda a técnica musical presente neste álbum baseia-se naquilo que é a chave do que esta banda faz - a emoção. A força emocional de ME é, no fundo, aquilo que lhe dá sentido, aquilo que une todos os elementos que o compõem numa só obra-prima.

Por todas estas razões e mais algumas que deixo à vossa discrição, atribuo a este álbum um valor muito próximo da pontuação máxima: 19.5 e não 20 porque deixo à banda a possibilidade de exceder o seu próprio brilhantismo.

19.5 valores em 20

Inês Rôlo Martins, Lua Minguante

Line-up: Sharon den Adel (voz), Jeroen van Veen (baixo), Martijn Spierenburg (teclado), Robert Westerholt (guitarra), Ruud Jolie (guitarra), Stephen van Haestregt (bateria)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008


As Senhoras do Metal desejam a todos os leitores, colaboradores e amigos um FELIZ NATAl \m/





Créditos do vídeo


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Breves

Nightwish lançam MCD e DVD ao vivo

Os Nightwish lançarão um MCD em Março de 2009. O mini-cd foi gravado durante a Dark Passion Play Tour e também incluirá um DVD bónus com material ao vivo. A tracklist será divulgada brevemente.

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Karen Gilligan deixa os Cruachan

A vocalista da banda de folk metal Cruachan anunciou que vai deixar a banda. A decisão deveu-se a motivos pessoais e não a conflitos no seio da banda.

O colectivo já anunciou que Karen não será substituída e prosseguirão apenas com o vocalista Keith Fay, enquanto John Ryan e John O Fathaigh assegurarão os backing vocals.

Os Cruachan já estão a trabalhar no seu próximo álbum, e já fizeram saber que utilizarão vozes femininas convidadas e que Karen fará uma participação especial em algumas faixas.

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os melhores de 2008

Já em contagem decrescente para a entrada de 2009, é chegado o momento de fazermos um balanço do ano que finda. No final de Janeiro, as Senhoras do Metal divulgarão uma tabela com aqueles que consideramos terem sido os melhores lançamentos de 2008. No entanto, não nos queremos ficar por aí. A opinião dos leitores conta e, nesse sentido, lançamo-vos o desafio de nos enviarem as vossas escolhas daqueles que foram, para vocês, os álbuns do universo do Metal no Feminino que mais se destacaram pela sua qualidade.


Regras:

1. As bandas têm de ter pelo menos um membro feminino, que pode ser uma vocalista ou uma instrumentista.
2. Os lançamentos têm de ser de 2008.
3. No máximo, podem escolher 10 álbuns.
4. Podem escolher uma banda revelação, isto é, uma banda que tenha lançado o seu primeiro álbum em 2008.

Enviem as vossas escolhas para senhorasdometal@gmail.com até 20 de Janeiro de 2009. Os resultados serão publicados a 31 de Janeiro. Contamos com a vossa participação!

Autumn terminam gravações do próximo álbum

Os Autumn terminaram as gravações do seu terceiro longa-duração, entitulado Altitude, a ser lançado a 27 de Fevereiro em alguns países e a 2 de Março no resto da Europa. A primeira edição da versão limitada incluirá uma faixa bónus exclusiva. Uma preview do álbum já pode ser escutada no myspace oficial da banda.

Este será o primeiro álbum com Marjan Welman, que ocupou o posto de vocalista após a saída de Nieke de Jong. Marjan foi uma das artistas convidadas do último álbum dos Ayreon 01011001 e é também vocalista na banda Elister.

Tracklist de Altitude:

1. Paradise Nox
2. Liquid Under Film Noir
3. Skydancer
4. Synchro-Minds
5. The Heart Demands
6. A Minor Dance
7. Cascade (For A Day)
8. Horizon Line
9. Sulphur Rodents
10. Answers Never Questioned
11. Altitude
12. Closure (Bonus track)

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Lacuna Coil: novo álbum em 2009


Os italianos Lacuna Coil divulgaram o título do próximo álbum a ser lançado na Primavera pela Century Media. Shallow Life foi gravado num estúdio em Los Angeles com o produtor Don Gilmore que trabalhou com bandas como Linkin Park, Trapt, Avril Lavigne, Good Charlotte, The Veronicas, Pearl Jam, Trust Company e Duran Duran.

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Miri Milman abandona os Distorted

Após 10 anos de colaboração, Miri Milman deixou os Distorted. Apesar de terem perdido a sua vocalista, a banda israelita continuará a trabalhar no terceiro álbum e mantém a data do concerto com os Draconian, que terá lugar em Israel a 27 de Fevereiro de 2009.

Miri Milman está a trabalhar num novo projecto com o seu marido, Sven De Caluwé, vocalista dos Aborted.

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sábado, 13 de dezembro de 2008

REVIEW - Within Temptation - Enter [1997] e The Dance EP [1998]

Tracklist:

1. Restless
2. Enter
3. Pearls of Light
4. Deep Within
5. Gatekeeper
6. Grace
7. Blooded
8. Candles





O acto de me sentar em frente ao ecrã do portátil a ouvir Enter dos Within Temptation (WT) tem, para mim, tudo de familiar e, simultaneamente, de estranho. As músicas são-me tudo menos desconhecidas, mas pensar e escrever objectivamente sobre elas já é uma coisa diferente. Nas milhares de vezes que ouvi este CD, muitos foram os motivos por detrás do acto de carregar no play e escolher uma ou outra faixa. Na base, o sentimento geral: os WT são, desde 2003, a minha banda de eleição. Esse foi, para mim, o ano de viragem em termos musicais. Ouvi pela primeira vez Ice Queen e fui esmagada pela obra-prima que é o álbum Mother Earth. Ainda antes do lançamento de The Silent Force, já tinha ido em busca das chamadas "raridades", entre as quais, este Enter e o EP The Dance. E o deslumbramento continuava – estas eram as músicas mais pesadas que já ouvira na minha vida.

Hoje, seis anos depois, esta afirmação está longe de ser verdadeira, mas o deslumbramento, esse jamais desapareceu ou diminuiu, ou não fossem estes Enter e The Dance dois registos admiráveis. As razões para ouvir a música dos WT passaram a ser diversas e a consciência do acto de carregar no play tornou-se cada vez mais inconsciente. Se queria peso e escuridão, Enter ou The Dance davam-me isso mesmo; ou porque não Gatekeeper, Another Day ou Grace. Se queria suavidade e beleza, a lembrar tempos celtas, tinha a sempre bela Pearls of Light. Ou a fenomenal Candles. Se queria a pureza de uma balada, tinha Restless. Se desejasse velocidade e peso, lá estava The Other Half (of Me). E se qualquer uma destas razões não servisse, havia sempre a saudade do som dos WT nos seus primórdios. Quem os acompanha desde esta altura, ou mesmo antes, sabe do que estou a falar. A produção não é de excelência, os grunts de Robert Westerholt não são os melhores que já ouvimos, a voz de Sharon den Adel não apresenta a qualidade cuidada de hoje. Mas tudo isto não poderia soar melhor aos meus ouvidos.

Enter é o álbum de estreia dos holandeses WT e data dos finais dos anos 90, mais precisamente de 1997. Por esta altura, Robert Westerholt abandonava o seu anterior projecto, os Voyage, e encontrava nos WT a possibilidade de criar a música que sempre tinha desejado ouvir – o peso do metal aliado à melodia da música clássica. E encontrava também, na companheira Sharon den Adel, a voz perfeita para a sua música. À fundação de base juntaram-se Jeroen van Veen (no baixo), Martijn Westerholt nos teclados, o segundo guitarrista Michiel Papenhoeve e Ivar de Graaf na bateria. Estes últimos três abandonaram a formação e foram substituídos, em 2001, pelos músicos actuais. Até aqui nada de novo - uma pesquisa no Google esclarece o ouvinte mais interessado. Se esse ouvinte for à procura do álbum de estreia, motivado pelo último registo do colectivo, provavelmente pensará que está perante uma outra banda. Os WT de 1997 tinham pouco a ver com os WT de hoje, e isto não é uma afirmação de saudosismo dos tempos passados. Não. É uma constatação. Também não quero dizer que perderam qualidade, que “os velhos tempos é que eram”. Não. Os WT actuais estão no topo da sua carreira e, por sinal, de muito boa saúde. E recomendam-se.

Enter é diferente do que fazem hoje em muitos aspectos menos num – é um registo de metal sinfónico/melódico. E digo metal, mesmo, sem ambiguidades, sem qualquer pontada do seu rock actual. Estou a falar de metal lento, pesado e repleto de melodia. Metal gótico, doom, com apontamentos de black metal. Em Enter, a grande maioria dos temas são mais longos do que aquilo a que os WT nos têm vindo a habituar recentemente, o que revela a toada doom bem acentuada deste registo. Mas em 1997, a sonoridade dos WT tinha já aquilo que ainda hoje fascina e é praticamente inigualável – melodias de piano majestosas e envolventes, guitarras harmoniosas e com o peso necessário, uma bateria presente nos momentos certos e um sentido apurado daquilo que procuram musicalmente.

Logo no seu álbum de estreia encontramos alguns dos melhores temas do colectivo holandês. A fórmula musical de Enter - a dualidade Beauty and the Beast - parece gasta nos dias que correm, mas na época era do mais fresco que havia e os WT eram [e ainda são] muito bons no que faziam, sabendo marcar a diferença e começando, já nesta altura, a construir uma sonoridade coesa e inconfundível.

A faixa de abertura do álbum, Restless, é uma das baladas mais marcantes da carreira dos WT. A melodia do piano já se tornou uma preciosidade para os fãs da banda, assim como o ritmo lento e cadenciado. A voz soprano de Sharon den Adel demonstra toda a sua juventude e força – uma voz bela e quente, capaz de atingir oitavas de respeito. Guitarras lentas e dramáticas juntam-se à melodia do piano e a voz de Sharon eleva-se acima desta paisagem de pura beleza. Estavam lançadas as bases para uma sonoridade teatral, no bom sentido do termo. Mas Restless era apenas uma amostra de todo o potencial da banda.

A faixa-título, essa, é mesmo de arrepiar. Não será preciso descrever o som do portão que se abre, a voz masculina que diz: “Welcome to my home” e uma súbita bateria que faz a primeira das suas aparições de imponência A melodia que se segue é uma das mais memoráveis e poderosas que já tive a oportunidade de ouvir [e mesmo que os gostos não se discutam, acho que neste ponto, pelo menos, posso fazer-vos concordar comigo, certo?]. Os teclados são hipnotizantes e o ritmo encantatório. Os WT convidam-nos a entrar no seu mundo e este não poderia parecer-nos mais fascinante. As guitarras recriam a melodia dos teclados e a música sobrepõe-se em camadas, por debaixo dos guturais de Robert. Guturais que nunca tiveram muito peso na música dos WT, mas que eram algo novo e fresco em 1997 - época de glória do esquema Beauty and The Beast, que os WT tão bem souberam adaptar à sua sonoridade. Na faixa Enter, os guturais fazem o contraponto com o tom mais feérico de Sharon, numa música cujo formato não é de todo convencional. O refrão acaba por ser o momento mais suave de toda a composição, com sintetizadores subtis e Sharon cantando em tom melancólico, até nova aparição dos grunts e mergulho na melodia hipnótica. Conclusão: Enter é uma faixa obrigatória para qualquer apreciador de metal sinfónico e melódico [eu diria mesmo para qualquer apreciador de metal], uma pérola de peso e harmonia. Incontornável.

A suavidade de Pearls of Light mostra-nos o outro lado dos Within Temptation, que já se deixava entrever em Restless. O colectivo holandês é mestre na melodia e esta faixa é um exemplo disso mesmo. Sintetizadores e teclados fantasiosos, até à chegada das guitarras e bateria, naquele que é mais um refrão de qualidades líricas notáveis. Sharon utiliza, a um dado momento, o seu timbre mais lírico, que contribui para acentuar o encantamento em que este tema envolve o ouvinte.

Em Deep Within mergulhamos na veia black metal melódico dos WT. Vocais entregues a George Oosthoek – na época, vocalista dos já extintos Orphanage – e total ausência da voz de Sharon. Refrão vibrante, mais uma melodia hipnótica, acelerações breves intercaladas com ritmos mais compassados. Os WT provam que nem sequer precisam de uma voz melodiosa para serem melódicos.

Gatekeeper é uma faixa maioritariamente instrumental, com uma estrutura complexa que hoje seria impensável num trabalho dos WT [ainda assim, uma inspiraçãozinha nesta Gatekeeper num álbum futuro e eu não me queixava]. Esta é a faixa por excelência da conjugação das melodias dos teclados com o peso das guitarras. Inspiração lírica negra e opressiva, muito bem interpretada por Sharon.

Grace continua na mesma linha, embora com maior participação vocal. O refrão não nos cativa à primeira, mas após algumas audições, lá fica por uns tempos. O destaque vai para… a melodia, claro. Esta faixa, em todo o seu peso de verdadeiro metal, embala-nos e transporta-nos para longe. A voz de Sharon assume perfeitamente as suas duas vertentes - o seu carácter mais etéreo e encantatório e o seu lado mais tenebroso e vibrante. Uma ambiguidade em que se especializará nos anos seguintes e na qual ninguém, até hoje, a conseguiu igualar. Segue-se Blooded, um somatório interessante do que a banda fazia na época a nível instrumental.

Enter termina com aquele que é um dos melhores temas de sempre dos WT. Falo de Candles, que é tudo aquilo que, na minha humilde opinião, faz dos WT os WT e não outra banda qualquer. E embora a descrição de uma música, seja ela qual for, fique sempre aquém da música em questão, aqui vai uma tentativa. Suavidade. Sharon e o seu timbre mais etéreo. Este é apenas o mote, porque o que se segue é uma ambiência de obscuridade, mistério e peso. Estamos perante um trabalho lírico de grande beleza e uma composição musical e instrumental mágica. Após o manto tecido pelos sintetizadores, entra um piano sóbrio. E depois aquela bateria e aquelas guitarras. As adequadas. O tom etéreo de Sharon torna-se inatingível, até os grunts de Robert nos fazerem descer à terra, deitando-se sobre a melodia viciante do piano. Tudo se combina numa quase perfeição. E só não digo perfeição, porque tive a oportunidade de ouvir, mais recentemente, uma interpretação deste tema ao vivo e, essa sim, foi perfeita, porque juntou a qualidade e profissionalismo dos WT de hoje à magia do que faziam em 1997.



Tracklist:
1. The Dance
2. Another Day
3. The Other Half (of Me)












Um ano depois, a banda lançava o primeiro (e único) EP da sua carreira. The Dance apresentava três novos temas. No que respeita aos teclados, o som do piano deixa de ter tanta presença e investe-se mais no som característico do órgão propriamente dito, tornando a sonoridade mais pesada e obscura. Tratava-se de mais um passo na direcção de Mother Earth.

A faixa título, The Dance, só é equiparável à própria Enter em peso e força. Absoluto predomínio do órgão que discorre uma melodia perturbadora, mas ainda mais perturbador é o tom que Sharon utiliza. A sua voz soa absolutamente malévola, naquela que é a faceta que mais gosto no seu timbre e que será mais profundamente explorada no álbum seguinte. O diálogo Beauty and The Beast marca presença, assim como uma bateria mais variada e rápida, que sossega no já característico momento lento e dramático.

Another Day é uma faixa pesada e teatral, com teclados, coros sintetizados e guitarras arrastando uma melodia dolorosa. A voz de Sharon paira algures entre o céu e a terra, crescendo em intensidade até se tornar soberana de toda a composição.

Ainda neste EP, a banda traz-nos uma das suas melhores malhas sonoras – The Other Half (of Me) é capaz de ser tudo o que um metaleiro mais tradicional pode desejar de uma banda de metal sinfónico. Este tema é veloz – mais veloz do que qualquer coisa que os WT haviam feito até esta altura – e, ainda hoje, é um dos temas mais rápidos do seu repertório. A melodia vertiginosa que abre este faixa é conhecida de qualquer fã. A velocidade das guitarras imprime uma força única a esta faixa, que é a incorporação mais que perfeita do formato Beauty and The Beast - o diálogo entre Luz e Sombra, Bem e Mal, a Bela e o Monstro, desenrola-se por entre a fúria das guitarras e da secção rítmica.

Enter não é o melhor álbum dos WT. Não é o melhor a nível de produção nem a nível instrumental [e só não digo o mesmo em relação às letras, porque tenho por estas uma estranha mas profunda afeição]. Ainda assim, é a estreia brilhante dos WT. Neste álbum, e no próprio EP, encontram-se algumas das melhores composições do colectivo. E também está aqui a receita daquilo que fazem hoje – uma melodia inspirada, pensada e construída para se entrelaçar com o peso do metal, uma bateria já nesta altura bem característica e uma estrutura lírica que se reveste de um carácter poético. É também nestes dois registos que podemos escutar o grito de uma voz excepcional, que cresceu em domínio e beleza, tornando-se numa das melhores vozes femininas do metal.

Destaques:
Restless, Enter, Candles, The Dance, The Other Half (of me)


16.8 valores em 20

Inês Martins (Lua Minguante)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Agenda Dezembro

12.12.2008 - Hyubris - X-mas BeastFeast @ InLive Café- Moita
27.12.2008 - We Are The Damned - Man' Ruin Bar -Cacilhas (a confirmar)




- Agradecemos a colaboração dos nossos leitores para completar esta agenda. Contactem-nos através do mail - senhorasdometal@gmail.com.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sirenia - Novo single no Myspace


O primeiro single do novo álbum dos Sirenia já está disponível para audição no Myspace Oficial da banda. The Path to Decay será lançado a 26 de Dezembro, apenas para download, e constará do novo álbum do colectivo intitulado The 13th Floor, cujo lançamento está agendado para 23 de Janeiro. Este será o primeiro trabalho da banda com Ailyn nos vocais.

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domingo, 7 de dezembro de 2008

Elis revelam título do próximo álbum

O quarto longa-duração dos Elis terá o título Catharsis. Sandra Schleret, vocalista que substitiu Sabine Dünser, que faleceu em 2006 vítima de uma hemorragia cerebral, fez a seguinte declaração sobre este novo registo:

“Há algum tempo atrás, pouco antes de me juntar aos Elis, passei por um período muito complicado. Em termos físicos foi a experiência mais difícil da minha vida. Estava a enfrentar uma doença muito grave, e enquanto o meu corpo lutava eu sentia a minha alma a seguir um outro caminho. Desenvolvi uma força que nunca imaginei ter, mas que foi essencial nesse período. Retirei-me da “vida real” durante meio ano, e senti-me à parte, como se não participasse da realidade. Através das histórias que conto em Catharsis estou a sublimar esse período da minha vida, a partilhar os meus sentimentos, medos e também as coisas que observei como outcast. A palavra Catharsis tem vários significados, mas aqui representa a cura da alma que passa por uma tragédia. Para perceber como a vida é mágica tive de experimentar o seu lado sombrio”.

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Delain lançam novo álbum em Fevereiro




April Rain é o título segundo álbum dos Delain, sucessor de Lucidity (2006), que vai ser lançado a 9 de Fevereiro. De acordo com Martijn Westerholt, teclista e compositor dos Delain, “o novo álbum representa um grande esforço da banda, do qual estou muito orgulhoso”.

Martijn Westerholt integrou os Within Temptation, mas em 2001 foi obrigado a afastar-se da banda por motivos de saúde. Os Delain nasceram no ano seguinte como projecto de um só homem, tendo-se tornado um duo em 2005, com a entrada de Charlotte Wessels que assumiu o lugar de vocalista. Em 2006, lançariam o primeiro álbum, Lucidity, que contou com a participação de vários artistas convidados, entre os quais Sharon den Adel (Within Temptation), Liv Kristine (Leaves’ Eyes) e Marco Hietala (Nightwish). No entanto, só um anos depois é que passariam a ter membros estáveis.

Lucidity não foi um álbum pensado para ser apresentado ao vivo, mas os pedidos foram tantos que acabámos por formar uma banda para tocar ao vivo. E foi com essa banda que gravámos April Rain”. Segundo o compositor, comparado com Lucidity, o novo álbum é musicalmente mais corente e consistente, por ter sido gravado com um alinhamento estável. “No que respeita à produção, este será um trabalho que dará mais ênfase à vertende metal do que Lucidity, que teve um produção mais pop. Por outro lado, os temas serão mais rápidos e menos doomy”, acrescentou.

Outra grande diferença em relação ao primeiro álbum, é a quase total ausência de artistas convidados, excepção feita a Marco Hietala, que terá uma participação na faixa Control the Storm.

De momento, os Delain estão em estúdio a dar os últimos retoques em April Rain, que será apresentado a 5 de Fevereiro de 2009 em Amesterdão, num evento especial, antes de chegar às lojas. Após esse evento, a banda holandesa partirá em tour com os Kamelot.

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Senhora do Metal do Mês - Dezembro

7 de Fevereiro de 2008. A Rotterdam's Ahoy Arena, na Holanda, está com lotação esgotada: nada mais, nada menos, do que uma audiência de 10.000 pessoas. No palco, uma produção de excelência, uma orquestra de 60 instrumentos, um coro de 20 vozes, músicos convidados, um número considerável de performers de espectáculo, pirotecnia e efeitos de luz. Ao fundo, o maior ecrã da Europa estendia-se de um lado ao outro da arena. Em cima do palco, uma banda com 12 anos de existência admitia ter alcançado o ponto alto da sua carreira. A confissão feliz é feita na voz da Senhora do Metal que é fundadora, compositora e vocalista de umas das bandas mais reconhecidas a nível mundial, na área do metal sinfónico de voz feminina. Sharon den Adel.


Com uma voz vibrante, de tonalidades obscuras ou angelicais, uma presença forte em palco e um percurso marcante, a frontwoman dos Within Temptation é referência uma absolutamente incontornável. Com formação estável desde 2001, a banda parece ter encontrado o equilíbrio entre peso e harmonia que sempre buscou. Dez anos depois do álbum de estreia, Enter, a voz de Sharon den Adel revela-se no seu apogeu, alcançando registos anteriormente inéditos.

É por todas estas razões (e outras mais, que enumeraremos ao longo do mês) que fechamos o ano de 2008 com esta voz formidável, com a certeza de ser com chave de ouro.

Edição nº 7 - Dezembro

Editorial


Mudam-se os tempos...

Theatre of Tragedy e Nightwish são duas bandas ícone que, nos já idos anos 90, foram responsáveis não só pela criação de novos subgéneros dentro do metal, como pela proliferação de bandas femininas com vozes operáticas.

Liv Kristine, a jovem soprano de voz cristalina, foi uma das primeiras vocalistas femininas numa banda de doom metal – porque aquando do lançamento dos seus primeiros álbuns, num tempo em que a etiqueta gothic metal ainda era recente, os Theatre of Tragedy constavam do catálogo do doom metal.

Os Nightwish surgiram alguns anos depois e o próprio Tuomas Holopainen confessou que os Theatre of Tragedy foram uma das suas inspirações. No entanto, a voz de Tarja Turunen tinha/tem poucos pontos em comum com a de Liv: trata-se de um timbre mais negro, mais pesado, mais poderoso. E desenganem-se os leitores que acreditam que, nos anos 90, os Nightwish se impunham pela grande qualidade das suas composições. Angels Fall First é um álbum bastante medíocre, à excepção de um par de temas. Foi Tarja que fascinou os ouvintes, primeiro da Finlândia, depois do resto do mundo. E o resto é história.

Apesar de pertencerem a sub-géneros completamente diferentes, estas duas bandas tinham algo em comum: o facto de ambas as vocalistas serem cantoras líricas. Muitos outros projectos – alguns activos até aos dias hoje – seguiram as pisadas destas bandas seminais, o que resultou numa explosão de cantoras líricas. Era como se a Ópera tivesse invadido o Metal o que, na época, era uma tendência nova e refrescante, que foi essencial para que as Senhoras do Metal se estabelecessem na cena. As vozes de mulheres talentosas como Vibeke Stene dos Tristania, Floor Jansen dos After Forever, Simone Simons dos Epica, Melissa Ferlaak dos Aesma Daeva/Visions of Atlantis, entre tantas outras, nunca nos teriam encantado se não fossem estas duas bandas seminais nos anos 90.

No entanto, passados mais de dez anos desde o primeiro lançamento dos Theatre of Tragedy, algo está a mudar no Reino das Senhoras do Metal. Talvez o sintoma mais evidente tenha sido a substituição de Tarja Turunen por Anette Olzon. Contra todas as expectativas, e para o desapontamento de muitos, os Nightwish não optaram por uma vocalista lírica, mas sim por uma senhora com uma voz mais directa, mais rock. E não foram os únicos. Também os Tristania, após a saída da carismática Vibeke Stene, escolheram uma poderosa voz rock para ocupar o lugar deixado vago pela sereia norueguesa. E ainda antes destas mudanças radicais (e dramáticas!) de alinhamento, já os After Forever tinham mudado a sua sonoridade, com Floor a deixar cair para segundo plano as suas vocalizações operáticas.

O facto é que, actualmente, uma banda que tenha uma vocalista lírica é encarada como “mais uma” e, a não ser que a sua sonoridade tenha um “quê” de original, como é o caso dos Diablo Swing Orchestra ou dos Adastreia, detectam-se alguns franzires de sobrolho por parte dos críticos. De bandas Beauty & the Beast, então, nem se fala: cada vez menos colectivos apostam neste contraste, escolhendo dar primazia a apenas uma das vozes.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E as as vozes rock são uma tendência que se afirma cada vez mais e que – fazendo um pouco de futurologia – serão dominantes nos próximos anos. O romantismo obscuro do gótico está a abandonar a cena para ser subsituído por uma sonoridade mais terrena, mais metaleira. As lânguidas donzelas vitorianas estão a ser substituídas por mulheres de garra e atitude Os vestidos de veludo deram lugar às calças de ganga, a fragilidade a uma certa agressividade. E até Sharon den Adel deixou de lado os vestidos longos, que eram a sua imagem de marca, para adoptar um visual mais moderno.

Algumas representantes desta nova tendência são Angela Gossow dos Arch Enemy, Riina Rinkinen dos Silentium, Helen Voght dos Flowing Tears, Magali Luyten dos Virus IV, Marjen Welman dos Autumn, Mariangela Demurtas dos Tristania e, goste-se ou não, Anette Olzon dos Nightwish.

Muito à semelhança da grande senhora Doro Pesch, que está a celebrar os seus 25 anos de carreira, estas são mulheres de “pêlo na venta”. Sinais dos tempos?

Cláudia Rocha
e
Inês Martins, Ana Teixeira

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

REVIEW - Battlelore – The Last Alliance [2008]

Tracklist:
1 - Third Immortal
2 - Exile The Daystar
3 - The Great Gathering
4 - Guardians
5 - The Voice Of The Fallen
6 - Daughter Of The Sun
7 - Green Dragon
8 - Awakening
9 - Epic Dreams
10 - Moontower
11 - The Star Of High Hope


E, finalmente, chegamos ao fim da nossa jornada através da discografia dos Battlelore, com o seu mais recente lançamento, intitulado The Last Alliance. Após um mês inteiramente dedicado à banda e, sobretudo, às duas Senhoras do Metal que a compõem, nada do que eu possa escrever nesta última review vai ser uma novidade para os nossos leitores… bem, quase nada, porque após um lançamento tão atípico como o Evernight [2007], estes finlandeses ainda conseguem surpreender-nos.

E, desta vez, a questão que se impõe é: volvidos quase dez anos de carreira, e cinco trabalhos de estúdio, o que é que os Battlelore nos trazem de novo? Resposta: nada… ou quase nada. Em The Last Alliance o colectivo limitou-se a adaptar as mesmas fórmulas que utilizou em trabalhos anteriores: os contrastes vocais, os teclados proeminentes, influências folk. Boas/Más (riscar uma das opções) notícias: depois de um Evernight a negro e cinzento, os Battlelore estão mais épicos do que nunca. Boas notícias (e estas são realmente boas): maior variação rítmica, vocalizações mais diversificadas com a inclusão de algumas vozes limpas. E as (inevitáveis) más notícias: as guitarras voltaram a ocupar o seu lugar no background. Teclados ao poder!... pelo menos na maioria das faixas porque – eu avisei que havia surpresas! – temos algumas felizes excepções.

Third Immortal é um bom tema de abertura, que remete para os tempos de Third Age of the Sun [2005], com os teclados e a voz de Kaisa a comandar, e um refrão catchy. Por outro lado, Exile the Daystar revisita a melancolia de Evernight, com Kaisa a recuperar o seu tom mais suave e expressivo. É aqui que as vocalizações limpas fazem a sua primeira de muitas aparições. Após esta visita ao passado, seguem-se dois temas de peso na verdadeira acepção da palavra: The Great Gathering e Guardians são, talvez, as composições mais pesadas e intensas da discografia recente dos Battlelore. Tomi assume o comando em ambas as faixas, com Kaisa limitada aos refrões e a alguns apontamentos vocais. As guitarras são poderosas com riffs eficazes, e a intensidade alcança as proporções do… pedal duplo. Eu não disse que os Battlelore ainda eram, apesar de tudo, capazes de nos surpreender?

Um dos grandes temas, que merece o seu devido destaque, é Daughter of the Sun, no qual os Battlelore têm um daqueles rasgos de genialidade que me fazem ter esperança no futuro deste colectivo. Começa como uma balada e vai-se desenvolvendo num crescendo, até Kaisa ceder lugar aos guturais de Tomi, os teclados às guitarras rasgadas. Momentos de calmaria intercalam-se com outros tempestuosos, vozes masculinas limpas, femininas e guturais entrelaçam-se, teclados e guitarras lutam pela supremacia, até ao clímax final.

Após este grande momento, os Battlelore voltam a repetir-se até à exaustão e, a partir daqui, ficamos com aquela sensação um tanto amarga de “já ouvimos isto antes, não ouvimos?”. Uma vez mais, é preciso frisar: estes senhores e senhoras são bons naquilo que fazem, mas estão a reutilizar as fórmulas dos seus nove anos de carreira.

Felizmente, brindam-nos com outro grande momento na última faixa, The Star of High Hope que, tal como Exile of Daystar, revisita os tempos de Evernight. Voltamos a ter o prazer de escutar a flauta de Maria e algumas passagens acústicas, no tema mais atmosférico do álbum.

Os Battlelore são uma banda com potencial, mas parece que existe uma barreira que os impede de ascender a uma patamar criativo superior. Embora sejam talentosos – como eu tenho vindo a enfatizar ao longo desta ronda de reviews – estão presos a receitas gastas e a uma certa mediocridade, como se temessem atingir todo o seu potencial. Creio que neste momento da sua carreira se encontram numa encruzilhada: ou continuam a reciclar ideias do passado e se perdem entre as centenas de bandas do mesmo estilo, ou arriscam um álbum surpreendente, como fizeram em Evernight. Porque este The Last Alliance é – apesar de alguns momentos de brilhantismo – mais do mesmo.

Destaques: The Third Immortal, Exile the Daystar, The Great Gathering, Daughter of the Sun, The Star of High Hope


Cláudia Rocha, Lua Crescente


15.3 valores em 20

Line-up: Kaisa Jouhki (voz), Maria (teclados e flauta), Henri Vahvanen (bateria), Jussi Rautio (guitarra), Jyri Vahvanen (guitarra), Timo Honkanen (baixo), Tomi Mykkänen (voz)

Site Oficial
Myspace

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

REVIEW - Battlelore - Evernight [2007]

Trackilist:
1. House Of Heroes
2. Ocean's Elysium
3. Summon The Wolves
4. We Are The Legions
5. Into The New World
6. Longing Horizon
7. Mask Of Flies
8. The Cloak And The Dagger
9. Beneath The Waves
10. Doom And Oblivion
11. The Tale Of The Downfall


A questão que se impunha aquando do lançamento de Evernight, no início de 2007, era: o que aconteceu aos Battlelore? Os admiradores da banda, que apreciavam a faceta mais folky e descontraída, quase festiva, da banda finlandesa, sentiram-se, muito provavelmente, desapontados com este quarto trabalho de estúdio. Não fossem a voz de Kaisa e o tema tolkieniano, a sonoridade da banda estaria praticamente irreconhecível. A artwork lança o mote: uma paisagem desprovida de cor, barcos que partem… E o título – Evernight – só vem reforçar o sentimento de tristeza que perpassa todo o álbum – não uma tristeza opressiva, mas a de melâncolia expressa na saudade por algo perdido.

No que respeita a alterações objectivas em relação aos trabalhos anteriores, desta vez as guitarras têm todo o destaque que merecem – porque eu, e provavelmente outros ouvintes, já se andavam a questionar sobre o porquê do colectivo ter dois guitarristas quando as guitarras não eram o instrumento com maior destaque. Mas os Battlelore redimem-se e encontram um novo equilíbrio, não só instrumental, mas também a nível vocal. Ao longo de 11 faixas (duas das quais bónus), somos presenteados com guitarras fortes que, ao contrário do álbum anterior, Third Age of the Sun (TAOTS), não estão apenas a criar a tal muralha de som que suporta as vozes e teclados – não, desta vez as guitarras brilham por mérito próprio. Os cânticos do teclado, que caracterizam o som dos Battlelore, continuam omnipresentes, sempre sóbrios e perfeitamente integrados com os restantes instrumentos. E até a bateria consegue soar mais interessante.

Sobre este instrumental coeso, erguem-se as vozes de Kaisa e Tomi. Outra diferença em relação a TAOTS é um maior equilíbrio entre a voz feminina e masculina, sendo que a Tomi é dado mais espaço para demonstrar o seu talento. E embora os seus grunts não sejam do melhor que já escutei, estão adequados à música e garantem um bom contraste com a voz etérea de Kaisa que, neste álbum, tem uma grande prestação. Se em TAOTS soava alegre como uma hobbit, desta vez canta com a suavidade e tristeza de uma donzela elfa.

Os Battlelore não são o tipo de banda que aposta em grandes mudanças de ritmo, pelo que todas as faixas são mid-tempo. As influências folk estão bastante presentes, mas este é, sobretudo, um (bom) trabalho de gothic metal que – imagine-se – até conta com alguns apontamentos doom metal. Mas já lá vamos.

House of Heroes é uma boa representante do que vamos escutar em Evernight. Apesar da força da guitarra e dos guturais de Tomi, tem uma qualidade etérea que se deve sobretudo a Kaisa, cuja voz se ergue numa elegia. Este tema encarna perfeitamente o sentimento de perda que está presente em todo o álbum.

Ocean´s Elysium constrói-se a partir do contraste entre as duas vozes, e do duelo entre guitarras e teclados, que têm destaque em momento diferentes. Summon the Wolves utiliza a mesma base, embora seja um pouco mais agressiva, com mais ênfase nas guitarras.

Grande destaque para We Are the Legions, um dos grandes temas de Evernight. Riffs mais trabalhados do que é usual nos Battlelore, uma bateria forte e um imponente Tomi a soar como um deus da guerra, enquanto a voz hipnótica de Kaisa parece estar a lançar-nos um feitiço. Os teclados de Maria não podiam faltar para completar esta atmosfera.

Into the New World foi, para mim, uma surpresa que se deveu ao fabuloso riff de abertura. É puro doom metal! Vejamos… já ouvi um riff parecido: num álbum dos My Dying Bride! É o tipo de coisa que jamais esperaria ouvir numa banda como os Battlelore e, só pela ousadia, já merecem uma vénia. O resto do tema não fica aquém da sua introdução majestosa, sendo que o grande enfoque é, mais uma vez, a voz de Kaisa. E até temos direito a um solo de guitarra tímido a meio da faixa.

Longing Horizon é o tema mais atmosférico deste Evernight. Começa suave, com guitarras acústicas e percussão, e vai crescendo em intensidade, com um pequeno apontamento de Tomi. Culmina com um lamento de Kaisa (“How much longer/ I can smother the pain? How much longer/Untill my flame fails?") cantado com tanta convicção, que a sua angústia soa genuína.

Mask of Flies é mais um duelo vocal entre a força suave de Kaisa e a agressividade de Tomi. Destaque para o pequeno momento doom (!) das guitarras a meio da faixa. É rápido, e mal se dá por ele, mas está lá. Já em the Cloak and the Dagger voltamos a ouvir a flauta de Maria que dá mais um toque folk a este tema que, de resto, segue a mesma fórmula dos anteriores.

Finalmente, chegamos a Beneath the Waves que é, na minha humilde opinião, a melhor criação dos Battlelore até ao momento, e prova que embora este colectivo não esteja a fazer nada que já não tenha sido feito antes, são talentosos e perfeitamente capazes de compor temas complexos. Beneath the Waves também funciona como uma espécie de síntese da sonoridade dos Battlelore neste álbum: guitarras poderosas, os berros imponentes de Tomi, momentos acústicos, belas ambiências criadas pelos teclados e pela voz de Kaisa. O tema começa com força, com as guitarras a imporem-se e a bateria um pouco mais rápida do que o habitual, para depois se transformar numa balada folk entoada pela voz triste e encantadora da vocalista feminina.

Doom and Oblivion é a primeira faixa bónus que, como o título deixa entrever, tem influências doom, com guitarras arrastadas, intercaladas com momentos mais up-tempo, e um ambiente opressivo, a voz de Kaisa etérea como se não estivesse realmente lá, como um eco de um sonho. Embora seja um tema curto, com poucos mais de três minutos, é uma boa faixa bónus.

Finalmente, The Tale of the Downfall é um belo instrumental, onde brilham os teclados e, sobretudo, a flauta de Maria, que soa como um lamento, com o som das ondas como pano de fundo. Fazendo lembrar ambiências da música celta, fecha este Evernight com chave de ouro.

Sendo uma banda que é acusada pelos críticos de usar constantemente a mesma fórmula, Evernight pode ser considerado, neste contexto, um álbum experimental, onde o colectivo demonstra talento e maturidade. O único senão é que é a escassez de momentos catchy e de variações de ritmo o que, num primeiro contacto, pode dificultar a vida ao ouvinte – e ao crítico – que quer manter a atenção focada na música. Não é, como tal, um álbum imediato, de consumo rápido... sobretudo para aqueles que seguem os Battlelore desde o ínicio. No entanto, a princípio estranha-se depois entranha-se, e é sem dúvida, um rasgo de criatividade na carreira destes finlandeses.

Destaques: House of Heroes, We Are The Legions, Into the New World, Longing Horizon, Beneath the Waves

15,8 valores em 20


Cláudia Rocha, Lua Crescente

Line-up: Kaisa Jouhki (voz), Maria (teclados e flauta), Henri Vahvanen (bateria), Jussi Rautio (guitarra), Jyri Vahvanen (guitarra), Timo Honkanen (baixo), Tomi Mykkänen (voz)

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