1. House Of Heroes
2. Ocean's Elysium
3. Summon The Wolves
4. We Are The Legions
5. Into The New World
6. Longing Horizon
7. Mask Of Flies
8. The Cloak And The Dagger
9. Beneath The Waves
10. Doom And Oblivion
11. The Tale Of The Downfall
A questão que se impunha aquando do lançamento de Evernight, no início de 2007, era: o que aconteceu aos Battlelore? Os admiradores da banda, que apreciavam a faceta mais folky e descontraída, quase festiva, da banda finlandesa, sentiram-se, muito provavelmente, desapontados com este quarto trabalho de estúdio. Não fossem a voz de Kaisa e o tema tolkieniano, a sonoridade da banda estaria praticamente irreconhecível. A artwork lança o mote: uma paisagem desprovida de cor, barcos que partem… E o título – Evernight – só vem reforçar o sentimento de tristeza que perpassa todo o álbum – não uma tristeza opressiva, mas a de melâncolia expressa na saudade por algo perdido.
No que respeita a alterações objectivas em relação aos trabalhos anteriores, desta vez as guitarras têm todo o destaque que merecem – porque eu, e provavelmente outros ouvintes, já se andavam a questionar sobre o porquê do colectivo ter dois guitarristas quando as guitarras não eram o instrumento com maior destaque. Mas os Battlelore redimem-se e encontram um novo equilíbrio, não só instrumental, mas também a nível vocal. Ao longo de 11 faixas (duas das quais bónus), somos presenteados com guitarras fortes que, ao contrário do álbum anterior, Third Age of the Sun (TAOTS), não estão apenas a criar a tal muralha de som que suporta as vozes e teclados – não, desta vez as guitarras brilham por mérito próprio. Os cânticos do teclado, que caracterizam o som dos Battlelore, continuam omnipresentes, sempre sóbrios e perfeitamente integrados com os restantes instrumentos. E até a bateria consegue soar mais interessante.
Sobre este instrumental coeso, erguem-se as vozes de Kaisa e Tomi. Outra diferença em relação a TAOTS é um maior equilíbrio entre a voz feminina e masculina, sendo que a Tomi é dado mais espaço para demonstrar o seu talento. E embora os seus grunts não sejam do melhor que já escutei, estão adequados à música e garantem um bom contraste com a voz etérea de Kaisa que, neste álbum, tem uma grande prestação. Se em TAOTS soava alegre como uma hobbit, desta vez canta com a suavidade e tristeza de uma donzela elfa.
Os Battlelore não são o tipo de banda que aposta em grandes mudanças de ritmo, pelo que todas as faixas são mid-tempo. As influências folk estão bastante presentes, mas este é, sobretudo, um (bom) trabalho de gothic metal que – imagine-se – até conta com alguns apontamentos doom metal. Mas já lá vamos.
House of Heroes é uma boa representante do que vamos escutar em Evernight. Apesar da força da guitarra e dos guturais de Tomi, tem uma qualidade etérea que se deve sobretudo a Kaisa, cuja voz se ergue numa elegia. Este tema encarna perfeitamente o sentimento de perda que está presente em todo o álbum.
Ocean´s Elysium constrói-se a partir do contraste entre as duas vozes, e do duelo entre guitarras e teclados, que têm destaque em momento diferentes. Summon the Wolves utiliza a mesma base, embora seja um pouco mais agressiva, com mais ênfase nas guitarras.
Grande destaque para We Are the Legions, um dos grandes temas de Evernight. Riffs mais trabalhados do que é usual nos Battlelore, uma bateria forte e um imponente Tomi a soar como um deus da guerra, enquanto a voz hipnótica de Kaisa parece estar a lançar-nos um feitiço. Os teclados de Maria não podiam faltar para completar esta atmosfera.
Into the New World foi, para mim, uma surpresa que se deveu ao fabuloso riff de abertura. É puro doom metal! Vejamos… já ouvi um riff parecido: num álbum dos My Dying Bride! É o tipo de coisa que jamais esperaria ouvir numa banda como os Battlelore e, só pela ousadia, já merecem uma vénia. O resto do tema não fica aquém da sua introdução majestosa, sendo que o grande enfoque é, mais uma vez, a voz de Kaisa. E até temos direito a um solo de guitarra tímido a meio da faixa.
Longing Horizon é o tema mais atmosférico deste Evernight. Começa suave, com guitarras acústicas e percussão, e vai crescendo em intensidade, com um pequeno apontamento de Tomi. Culmina com um lamento de Kaisa (“How much longer/ I can smother the pain? How much longer/Untill my flame fails?") cantado com tanta convicção, que a sua angústia soa genuína.
Mask of Flies é mais um duelo vocal entre a força suave de Kaisa e a agressividade de Tomi. Destaque para o pequeno momento doom (!) das guitarras a meio da faixa. É rápido, e mal se dá por ele, mas está lá. Já em the Cloak and the Dagger voltamos a ouvir a flauta de Maria que dá mais um toque folk a este tema que, de resto, segue a mesma fórmula dos anteriores.
Finalmente, chegamos a Beneath the Waves que é, na minha humilde opinião, a melhor criação dos Battlelore até ao momento, e prova que embora este colectivo não esteja a fazer nada que já não tenha sido feito antes, são talentosos e perfeitamente capazes de compor temas complexos. Beneath the Waves também funciona como uma espécie de síntese da sonoridade dos Battlelore neste álbum: guitarras poderosas, os berros imponentes de Tomi, momentos acústicos, belas ambiências criadas pelos teclados e pela voz de Kaisa. O tema começa com força, com as guitarras a imporem-se e a bateria um pouco mais rápida do que o habitual, para depois se transformar numa balada folk entoada pela voz triste e encantadora da vocalista feminina.
Doom and Oblivion é a primeira faixa bónus que, como o título deixa entrever, tem influências doom, com guitarras arrastadas, intercaladas com momentos mais up-tempo, e um ambiente opressivo, a voz de Kaisa etérea como se não estivesse realmente lá, como um eco de um sonho. Embora seja um tema curto, com poucos mais de três minutos, é uma boa faixa bónus.
Finalmente, The Tale of the Downfall é um belo instrumental, onde brilham os teclados e, sobretudo, a flauta de Maria, que soa como um lamento, com o som das ondas como pano de fundo. Fazendo lembrar ambiências da música celta, fecha este Evernight com chave de ouro.
Sendo uma banda que é acusada pelos críticos de usar constantemente a mesma fórmula, Evernight pode ser considerado, neste contexto, um álbum experimental, onde o colectivo demonstra talento e maturidade. O único senão é que é a escassez de momentos catchy e de variações de ritmo o que, num primeiro contacto, pode dificultar a vida ao ouvinte – e ao crítico – que quer manter a atenção focada na música. Não é, como tal, um álbum imediato, de consumo rápido... sobretudo para aqueles que seguem os Battlelore desde o ínicio. No entanto, a princípio estranha-se depois entranha-se, e é sem dúvida, um rasgo de criatividade na carreira destes finlandeses.
Destaques: House of Heroes, We Are The Legions, Into the New World, Longing Horizon, Beneath the Waves
15,8 valores em 20
Cláudia Rocha, Lua Crescente
Line-up: Kaisa Jouhki (voz), Maria (teclados e flauta), Henri Vahvanen (bateria), Jussi Rautio (guitarra), Jyri Vahvanen (guitarra), Timo Honkanen (baixo), Tomi Mykkänen (voz)
Site Oficial
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