sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

REVIEW - Within Temptation - Mother Earth [2001]

Tracklist

1. Mother Earth
2. Ice Queen
3. Our Farewell
4. Caged"
5. The Promise
6. Never-Ending Story
7. Deceiver of Fools
8. Intro
9. Dark Wings
10. In Perfect Harmony

Bonustracks
11. Restless
12. Bittersweet
13. Enter (live at Utrecht 1998)
14. The Dance (live at Utrecht 1998)



Se disser que sempre desejei fazer uma review deste álbum, talvez seja difícil de acreditar que foi a review que tive mais dificuldade em escrever. Conheço este Mother Earth (ME) melhor do que a palma da minha mão. Conheço cada nota, cada palavra cantada. Para escrever sobre ele vejo-me obrigada a ultrapassar esses valores emocionais e prender-me aos estritamente musicais. A isto vem juntar-se a premissa que vai justificar tudo o que vou escrever em seguida: este é o álbum da minha vida. Marcou uma viragem para mim em termos musicais e pessoais e tem, por isso, um lugar de destaque entre as minhas preferências. Portanto, esta review será total e completamente parcial. Considero que os Within Temptation (WT) cresceram e se tornaram excelentes no que fazem, mas ME é, e será sempre, um clássico do metal sinfónico e o diamante em bruto da uma carreira fulgurante.

Primeiro, os inevitáveis dados informativos. ME é o segundo longa-duração de estúdio dos WT e a sua afirmação dentro daquilo que melhor se fazia no plano do metal sinfónico. No que respeita às letras, estas reflectem um imaginário fantástico, entre temas de conotação amorosa, mas também com um pendor claramente crítico de reflexão sobre a actualidade. Os WT compõem melodias brilhantes de piano e teclados, algo evidente neste álbum que é no fundo a harmonização quase perfeita entre peso e melodia.

O tema título é a obra-prima por excelência dos WT. Esta faixa tem um significado muito especial para mim e a tentativa de fazer uma descrição dela é um trabalho deveras inglório. Quem nos lê, conhece com certeza Mother Earth e tem as suas próprias sensações e emoções ao ouvi-la. Em termos estritamente musicais, estamos perante uma composição muito bem construída, que começa com o som dos teclados dançantes, aos quais se juntam as guitarras e secção rítmica. Esta é capaz de ser a introdução mais avassaladora que já ouvi num tema de metal sinfónico. As influências celtas harmonizam-se de forma plena com o peso do metal. A bateria constrói um ritmo coeso e tribal que guia a composição, marcando o momento mais lento entregue aos coros gregorianos. O que dizer da voz de Sharon den Adel? Bom, só ela é capaz de alcançar tais notas desta forma, ponto final.

Segue-se o hino da banda, o single que a catapultou para uma fama que ate aí desconheciam. Ice Queen foi o tema que me deu a conhecer os WT. A minha primeira reacção foi pensar que nunca tinha ouvido nada assim. E não há dúvida de que não soa a nada do que se fazia na época: era forte e catchy, absolutamente novo e fresco. Desnecessário será referir os conhecidíssimos “oohooh”, aquele súbito silêncio antes de a música explodir com um riff de guitarra que se recusa a sair da nossa cabeça por muito tempo. Mas realmente impressionante é a voz que ouvimos sair das colunas e que me deixou boquiaberta nessa primeira audição. Também nunca tinha ouvido uma voz assim, vibrante e aguda, atingindo notas quase impossíveis. Absolutamente viciante – ou não fosse este o tema que fecha com chave de ouro todos os concertos da banda.

Our Farewell é a balada da carreira dos WT. Com uma melodia de piano bela e complexa, esta faixa é de uma sinceridade e emoção palpáveis. Começa de forma delicada e suave, com a voz de Sharon quente e profunda sobre o piano. Um arrepio percorre o ouvinte quando a bateria e as guitarras se lhes juntam. A música cresce grandiosamente, mergulhando num solo de guitarra e atingindo um pico final, com a voz de Sharon a elevar-se até ao clímax final.

Caged é o tema irmão de Mother Earth, tendo uma estrutura semelhante e um dos meus favoritos. A entrada das guitarras arrepia e a voz desce aos confins da terra e sobe ao céu para nos dar uma das suas melhores prestações neste álbum. Sharon adopta aqui o tom que mais gosto: melífluo e teatral, entrelaçand0-se nos coros dramáticos. As guitarras marcam presença, criando ritmo e adicionando peso.

The Promise é um tema monumental, na verdadeira acepção da palavra. A introdução suave e simultaneamente densa, com o órgão a transportar-nos directamente para tempos antigos, é inesquecível. O som cresce e explode, guitarras e órgão lançam-se numa dança desenfreada, dando lugar à voz de Sharon, que faz uma aparição gloriosa e dramática, que nos introduz nesta história de perda e vingança. Mais uma prestação vocal de excelência, mais um momento musical brilhante.

Neverending Story remete para as influências celtas que se evidenciavam nos WT desta época. Como o nome sugere, trata-se de uma canção-conto, uma estória simples mas produnda, cantada por sobre a melodia de piano e apontamentos de bateria.

Segue-se Deceiver of Fools, uma autêntica epopeia musical e mais um dos grandes temas deste ME. A introdução é magistral contando com a presença de um coro ao qual se junta a voz de Sharon. Uma suavidade perturbadora que cedo dá lugar a momentos verdadeiramente épicos. A bateria faz-se anunciar, seguido dos teclados que tocam uma melodia que mais parece um chamamento para a batalha. A voz de Sharon enceta uma narração cantada que culmina com um dos refrães mais vibrantes da carreira da banda. Como na grande maioria dos temas, a composição lírica de Deceiver of Fools transporta-nos para uma história que carrega consigo uma crítica acutilante ao mundo actual, naquela que é uma das melhores letras que já compuseram. No característico momento mais calmo da música, o piano saltitante tece a melodia complementada pelo tom mais doce de Sharon que se ergue num aviso perturbador, realçado pela música que acelera novamente. Composição finalmente entregue às melodias de teclados e guitarras, até o refrão a dominar novamente e deixar no ar uma questão: “Deceiver of Fools, shall he rule again?

Segue-se um curto interlúdio musical, que concorre para a explosão musical que é Dark Wings, uma das melhores malhas do álbum. Os ritmos sincopados atacam-nos logo ao início e a voz ameaçadora de Sharon canta quase num grito, intercalando-se com um coro de vozes femininas. Nesta composição temos a oportunidade de escutar um excelente momento instrumental com a voz de Sharon a aflorar em devaneios orientais, e os teclados a multiplicarem melodias a grande velocidade. A música serena apenas para acelerar novamente com a entrada dos coros e um formidável solo de guitarra, cortesia do quase lendário Arjen Lucassen (Ayreon).

Perfect Harmony apresenta reminiscências de uma Pearls of Light do álbum Enter, transportando-nos para uma floresta misteriosa e uma estória de encantar. Destaque para as melodias suaves e saltitantes e para a interpretação doce de Sharon.

A reedição de 2003 de ME, inclui ainda 4 faixas bónus: Restless (classical remix), Enter e The Dance (performance ao vivo em Utrecht, 1998) e a faixa inédita Bittersweet, na qual se destaca o som das flautas e piano, naquela que é uma das interpretações mais belas de Sharon.

ME é, para mim, o álbum da carreira dos WT, revelando o seu talento na combinação de atmosferas e peso e na composição de melodias. Aquilo que ainda hoje torna a sonoridade desta banda única é esse conhecimento intuitivo da melodia e a maneira como esta chega até nós, apoiada numa voz única. Toda a técnica musical presente neste álbum baseia-se naquilo que é a chave do que esta banda faz - a emoção. A força emocional de ME é, no fundo, aquilo que lhe dá sentido, aquilo que une todos os elementos que o compõem numa só obra-prima.

Por todas estas razões e mais algumas que deixo à vossa discrição, atribuo a este álbum um valor muito próximo da pontuação máxima: 19.5 e não 20 porque deixo à banda a possibilidade de exceder o seu próprio brilhantismo.

19.5 valores em 20

Inês Rôlo Martins, Lua Minguante

Line-up: Sharon den Adel (voz), Jeroen van Veen (baixo), Martijn Spierenburg (teclado), Robert Westerholt (guitarra), Ruud Jolie (guitarra), Stephen van Haestregt (bateria)

7 comentários:

Anónimo disse...

Tenho a honra de comentar este magnífico post!

Ok, foi mesmo parcial mas na minha opinião encerra aquilo que o album transmite.

A minha primeira música que ouvi de WT foi Deceiver of Fools, numa wicked experience que tive em tempos... Deitou-me ao chão, pos-me de braços para o ar, só queria sentir a luz. Tempos depois vim a descobrir o album completo, e deixou-me completamente pasmado: como era possível aquela consiliação a melodia e o peso?

Tenho a dizer que adoro o teu Blog, tenho conhecido muitas bandas através dele :D


Miss you

Ricky The Shadow Of Sorrows

gothic whisper disse...

Bem... O que dizer deste album?... Eu acho que... É assim mesmo, desde que o ouvi não há palavras que descrevam as emoções que ele me transmite. Vocês descreveram tudo nesta excelente review. E não há problema em ser parcial, porque de facto este é um album de nota 20.

"Mother Earth" não foi o primeiro album que ouvi dos WT, foi o Silent Force. Mas claro que depois fui procurar tudo o que havia deles e... UAU fiquei como que doidinha por esta banda.

Adoro a voz de Sharon em "Mother Earth" - gosto de chamar de voz de "bruxa" (sem conotação negativa, claro. Este album mostrou-me como Sharon é versátil e pode cantar em vários registos.

Apesar de gostar do album todo, a música que sempre me dá "chills down my spine" é "Mother Earth". Meu... Nunca ouvi nada que me transmitisse emoções tão fortes. Esta é uma música que quando tiver a sorte de ver ao vivo, vou chorar como um bebé, mas não de tristeza, mas de alegria por ser um épico.

Quando ouvi no Black Symphony com a orquestra e a flauta a fazer aquele registo, passei-me completamente.

De facto, este é um album que me deixa sem palavras para o descrever e adoraria que WT fizesse um novo album, incluindo algumas músicas dentro da linha de "Mother Earth" e com a vozinha da "bruxa".

^__^

Gothic Whisper (aka Ana)

Anónimo disse...

Para vocês e para as vossas reviews:

20 em 20!

****

Anónimo disse...

Eu acho o mesmo que a Gothic Whisper!!
Muito muito bom, para mim, well, I simply fell in love with metal music through it! :D


andrea_wt ;)

Anónimo disse...

Esta cena dos fãs escreverem reviews de albuns não dá com nada men xD...
Não quero entrar na discussão da nota, mas creio que a qualidade de som do ME é um facto que justifica bem não ter sido dado o 20... O resto que eu poderia dizer é muito subjectivo porque a minha pessoa nunca foi grande apreciadora de WT e portanto é normal que, se fosse eu a classificar, desse uma nota mais baixa, mas acho que o 20, com a qualidade de som do ME, não é justificável. Fica muito bem o 19,5 (na minha opinião não fica, mas isso é por outras razões lol).

De resto, a reveiw está bem escrita... P'ra não variar (acho que vou deixar de dizer esta parte... já a disse tantas vezes que não vale a pena repetir)

Senhora do Metal disse...

A review é sempre um género parcial. É possível fazer uma análise séria de um álbum, uma análise do ponto de vista técnico - mas no final do dia, o factor "gosto" é importante e o critico que não tem isto em conta não está a ser honesto ;)

Eu teria dado exactamente a mesma avaliação ;)

\m/

Cláudia Rocha

Anónimo disse...

Fantástico!
Entrei numa história da qual não queria mais sair!
Parabéns

Cláudia (Fadinha)