quinta-feira, 3 de julho de 2008

REVIEW Lyriel - Autumntales [2006]

Descrevendo (e muito apropriadamente) a sua música como "Dark Romantic Celtic Rock", os Lyriel, colectivo natural de Gummersbach (Alemanha), juntaram-se para nos contar estórias d‘encantar no Outono de 2003, servindo como banda de suporte de nomes como Elis, Visions of Atlantis, Regicide, Xandria, Schandmaul, Corvus Corax e Korpiklaani, entre outros. Em Janeiro de 2005 já tinham para nos oferecer o seu primeiro trabalho de originais Prisonworld e em Dezembro do mesmo ano sai ainda um DVD - Live auf Burg Greifenstein – com a actuaçao da banda no Celtic Rock Open Air na cidade de Greifenstein.

A voz contadora de estórias pertence à Senhora do Metal Jessica Thierjung, fundadora da banda juntamente com o guitarrista Oliver Thierjung (também encarregue das backing vocals). A eles juntaram-se os outros elementos essenciais desta história – Linda Laukamp no violoncelo e backing vocals e Joon Laukamp no violino, Sven Engelmann no baixo, Daniel de Beer na bateria e percussão e Martin Ahmann nos teclados.

A presença do violoncelo, violino e teclados assegura a forte componente melódica e folk, com guitarras, bateria e baixo a assegurarem a componente de peso. Ambas em quantidade considerável, combinam-se de forma incrivelmente harmoniosa, levando-nos a um mundo de fantasia, onde não faltam príncipes e princesas, fadas e elfos. Um mundo de sonho, criado para os sonhadores deste mundo.

Com o surpreendente número de 14 faixas, mas apenas um total de 50 minutos, no seu mais recente trabalho de originais Autumntales (Editora Black Bards Entertainment, 2oo6), os Lyriel oferecem-nos o melhor do seu sonho, mostrando uma evolução desde o disco de estreia. A mim cabe-me a difícil tarefa de pôr em palavras a sensação de sermos levados ao País das Fadas, pela originalidade e mestria dos Lyriel.

TRACKLIST Autumntales:
1. First Autumn Days
2. Surrender In Dance
3. Memoria
4. My Favourite Dream
5. Promised Land
6. Days Of Yore
7. Fairyland

8. Autumntales
9. Wild Birds
10. Hijo De La Luna
11. Enchanted Moonlight
12. Regen
13. Last Autumn Days
14. My Favourite Dream (Dedicated Version - Bonustrack)


Autumntales abre com a suavidade melancólica das tardes de Outono com a faixa The Autumn Days, um instrumental comandado por violino e violoncelo, aos quais se juntam teclados e batuques que vão conduzir a música a um culminar épico, com a voz de Jessica a murmurar aos nossos ouvidos – “Autumn begins…” – e somos subitamente lançados no ritmo alucinante de Surrender in Dance, título que não poderia ser mais adequado, considerando a estranheza de alguém poder ser sentir vontade de dançar a ouvir metal, mesmo que se trate do contagiante folk. Mas é isso, precisamente, que nos acontece, quando os primeiros acordes vibrantes e ritmados da segunda faixa penetram os nossos ouvidos, alma e corpo, num dos temas mais viciantes do álbum. A força da bateria traça o ritmo e o violino enceta a melodia dançante e catchy. A voz de Jessica parece saída de estórias d'encantar, no seu tom fresco e quase infantil, chamando-nos à dança, levando-nos por florestas verdejantes e noites de lua cheia, com festas em redor da fogueira. O refrão penetra-nos a mente e recusa-se a sair depois da terceira audição, sendo que dificilmente nos livramos dele, mesmo após semanas. Impressionante é a combinação entre tantos momentos ritmados e rapidíssimas quebras de ritmo, quase simultâneas, tudo isto numa música que nem chega aos 4 minutos, mas que é mais do que suficiente para nos deixar praticamente sem fôlego.

Memoria, o tema que se segue, parece capaz de recompor os nossos batimentos cardíacos, ao principiar com a voz de Jessica ritmada, mas simplesmente acompanhada de um divertido piano. Trata-se, no entanto, de mera aparência - eis senão quando entra uma outra voz, a do guitarrista Olivier Thierjung, uma voz masculina melódica, contrapondo-se à de Jessica, apanhando a melodia num outro ponto, as duas vozes entrecortando-se, cantando palavras distintas que provocam estranheza ao ouvido. A voz de Jessica multiplica-se e desdobra-se, auxiliada pelas backing vocals da violoncelista Linda Laukamp, até tudo se tornar num jogo de melodias que quase nos confunde. Ao cenário vêm juntar-se as guitarras, o baixo e um piano insistente e a música toma um ritmo cadenciado com a voz de Jessica, sozinha, a liderar. O peso e a melodia encaixam-se como se tivessem sido feitos um para o outro e pudessem viver felizes para sempre. O tema melódico do princípio é retomado no final, sobre uma tapeçaria criada pela suave seriedade do violoncelo de Linda. A voz de Jessica torna-se triste e melancólica e termina com delicadeza.

My Favourite Dream é o tema mais encantador que já alguma vez ouvi. Tudo nele é saído de um conto de fadas, o conto cantando pelos Lyriel e pela voz de Jessica, aqui sublimemente acompanhada pela beleza etérea da voz da nossa Senhora do Metal deste mês, Sabine Dünser (Elis). Desde a letra contando a história de uma Cinderela que decidiu lutar pelos seus sonhos e pelo seu amor, o Príncipe, à melodia sublime dos teclados, passando pelos cenários encantados executados pelo violino e suportados pelo violoncelo, até às melódicas guitarras, repletas de gentileza, cadenciadas pela bateria e coroadas pelas duas vozes cuja combinação não poderia ser mais perfeita – o tom palpável, real e jovem de Jessi e a beleza intangível e encantadora de Sabine – tudo isto, torna este o meu sonho mais que preferido. Sem dúvida, o momento alto nas estórias que os Lyriel nos contam em Autumntales.

O ritmo melódico volta em força e energia com The Promised Land. Aqui, a voz de Jessica percorre outros atalhos da floresta encantada, usando um tom mais baixo e grave, servindo de contraponto às melodias que se intercalam com a sua voz e erguendo-se em suavidade no refrão mais lento que qualquer outra parte da impetuosa melodia. O tema termina com a lentidão de uma melopeia arrastada por violinos e violoncelos, abrindo caminho para Days of Yore, que nos ilude ao principiar com uma melodia tão suave que pensamos que poderá ser uma balada. Mas a voz de Jessica parece pedir outra coisa, cantando de forma cada vez mais rápida, condensando palavras no seu tom mais melodioso. O peso entra, também ele, com uma estranha suavidade e ninguém diria que estamos perante a faixa mais rápida do disco (mas já lá chegamos). Os Lyriel começam por nos oferecer aqui um ritmo cadenciado, quase lento, com o violino a embelezar todos os segundos da música. O ritmo acelera-se de forma tão subtil que quase nem notamos. E ainda nem passaram dois minutos da música, que tem, no total, o dobro. Finalmente, a bateria acelera, e agora é impossível não notar. Jessica entra no refrão talhado sobre o ritmo que cessa precisamente quando atinge o seu auge, quase nos fazendo cair desse lugar bem alto onde fomos sonhar, longe deste mundo. Mas Days Of Yore ainda não acabou. Após brevíssimo silêncio, limita-se a retomar como se tivéssemos começado de novo, embora Jessica nos conte outra parte da história. E subitamente parece que terminou, num último suspiro. Mas ainda não. A voz de Jessica cala-se para deixar falar os outros elementos desta estória d’encantar e somos lançados numa peça instrumental brilhante. O ritmo acelera incrivelmente, com a guitarra a comandar, a bateria a cumprir o seu papel de tornar tudo ainda mais emocionante e o violinista Joon Laukamp a oferecer aqui um espectáculo ao nível dos ouvidos mais exigentes. O encanto e mestria dos Lyriel é-nos oferecido de mão beijada e, se não nos rendemos antes, não podemos deixar de o fazer agora e aceitar o convite para o País das Fadas dos Lyriel.

É nele que entramos a seguir, com a apropriada Fairyland. Violino e voz juntam-se para formar a melodia que é feita, como é aparentemente habitual na sonoridade do colectivo, entre os ritmos e as quebras. A voz de Olivier volta a juntar-se à de Jessica que oferece aqui toda a potencialidade do seu timbre vibrante e fresco, com um dos refrãos mais cativantes do álbum, impossível de não fixar porque se trata da simples repetição da palavra mágica “fairyland”. Mas ainda há tempo para surpreender, coisa que os Lyriel parecem ser sempre capazes de fazer nalgum minuto de todas as suas músicas. Aqui fazem-no no espantoso final, espantoso porque se dá uma alteração da melodia que termina, como se ainda fosse a meio, com a voz de Jessica e um assomar final do violino viciante.

A faixa-título Autumntales traz-nos de volta o Outono que perdêramos em danças loucas desde o tema de abertura. É neste que parece pegar precisamente, quando principia com um som que faz lembrar chuva e um piano simultaneamente triste e saltitante. A voz de Jessica desce às profundezas de um dia triste desta estação, rendendo-se a uma suavidade e ternura plenas. Autumntales é uma canção de despedida e de abandono e a sua gentil tristeza não sai deslocada do álbum, que na sua toada alegre e rápida, mantém subtilmente uma melancolia vinda de dias passados, que aqui se revela em toda a sua simplicidade e beleza.

Wild Birds é original logo desde o primeiro segundo, arrancado com uma bateria sozinha mas não só, ritmada e logo envolvida pelo violino. E o violino é sem dúvida a coisa mais impressionante deste tema, largando-se numa corrida melódica louca, a grande velocidade. A voz de Jessica assume o tom mais grave do registo, deixando para os instrumentos toda a melodia. Estes encarregam-se perfeita e majestosamente dela, com o violinista Joon Laukamp a realizar pequenos solos rápidos ou lentos, conforme o espírito dos Lyriel lhe dita. As surpresas ainda não acabaram e desta vez vêm com o idioma em que é entoado o tema seguinte, nada mais que uma cover da banda espanhola dos anos 80/90, Mecano. A musicalidade do espanhol é uma mais valia musical em Hijo de La Luna. O tema curioso realça o piano saltitante, o violino e os típicos ritmos irrequietos que aqui nos embalam até ao fim. Ao fim de dez contos de fadas, os Lyriel ainda não esgotaram toda a sua imaginação musical e lírica.

A prova disso está em Enchanted Moonlight, uma das músicas mais viciantes que já ouvi. Ninguém escapa ao refrão que pontua com bateria e guitarra cada palavra comandada por Jessica e inebriando-nos com uma melodia encantada que se assemelha a uma valsa interminável. A letra é sedutora, mais sedutora ainda no tom quente e natural da vocalista e aqui as alterações entre ritmo e melodia são tão frequentes que é impossível escolher uma que seja mais impressionante que outra. O tema termina como começou – violoncelo e violino dançando um bailado encantado sob a luz brilhante da lua, numa perfeição própria de qualquer estória d’encantar.

Regen começa silenciosamente e depois entra no já esperado ritmo entusiasmante. Estamos perante o terceiro idioma utilizado neste registo verdadeiramente poliglota – o alemão – nada mais natural, tratando-se da língua materna do colectivo. A voz de Jessica torna a rigidez da língua germânica, maravilhosamente harmoniosa e gentil, mais uma surpresa d’encantar, num disco agradavelmente inesperado, mesmo dentro do espectro folk metal. Chega o final da estória e regressa a melancolia outonal. Lost Autumn Days é o instrumental suave elaborado pelos teclados de Martin Ahmann, que assumem aqui o som de uma frágil harpa. A curta melodia vem ligar as pontas que pudessem ter-se soltado, concluindo o registo com a beleza suave de belos dias de Outono. Mas os Lyriel ainda nos oferecem uma faixa bónus, dedicada a Sabine Dünser (Elis), que nos deixou tempos depois de a ter gravado. É o meu sonho preferido que regressa, com a versão acústica de My Favourite Dream, cantada integralmente pela vocalista dos Elis, uma peça musical absolutamente inesquecível, em que o timbre etéreo de Sabine se eleva sobre uma tapeçaria trabalhada pelo piano e o característico violino dos Lyriel. Um belo sonho.

Talvez brevemente os Lyriel nos tragam outro. Talvez seja ainda melhor. Seja como for, não poderia ser mais desejado.


17.5 valores





Inês Martins (Lua Minguante)



2 comentários:

Anónimo disse...

parabéns ás Senhoras do Metal por este post brutal sobre o album de Lyriel!

Confesso que não conhecia a banda....e que conheço-a apenas há 1 semana no máximo ( á pala da nha querida amiga Inês Martins que teve a amabilidade de partilhar comigo esta banda brutal)!

Gostei do texto sobre cada musica, ainda assim tanho a dizer que o album é "todo bom", não consigo ouvir só uma musica em particula...tanho que começar do inico e levar o album todo, todas as musicas têm magia...têm letra...têm melodia! Adorei sinceramente! + 1 ponto a favor de meninas no Metal ( desde que façam trabalhos nesta onda...continuem..lindo)!

Mais uma vez um Muito Obrigado á Inês por me dar a conhecer esta banda, adorei, simplesmente brutal!

CUmprimentos, beijinhos e abraços ( um bjinho pó sérgio :D LOL )

\m/\m/

Senhora do Metal disse...

Infelizmente, é uma banda ainda pouco conhecida mas que, na minha opinião, tem qualidade suficiente para ter um pouco mais de projecção.
Por isso, passem a palavra ;)

Um abraço!

Cláudia Rocha, Quarto Crescente

\m/