segunda-feira, 14 de julho de 2008

Review Elis - Griefshire



Tracklist:

1. Tales From Heaven or Hell
2. Die Stadt (The Village)
3. Show Me The Way
4. Brothers
5. Salvation (MCD - Show me the way)
6. Seit dem Anbeginn der Zeit (Since The Beginning of Time)
7. Remember The Promise
8. Phoenix From Ashes
9. How Long
10. Innocent Hearts
11. Forgotten Love
12. The Burning
13. New Decade


Griefshire - É assim que em 2006 os Elis regressam com o seu terceiro album. É o primeiro então, até à altura, que aborda um conceito/história e o último antes da morte de Sabine Dunser.
Produzido por Alexander Krull e lançado pela Napalm Records, este album apresenta-nos assim, a história de dois irmãos (religiosamente fanáticos), a procura da salvação e o desejo da verdade e do amor num conjunto variado de estilos.
À medida que escutamos o album as várias personagens vão sendo apresentadas e por vezes quer queiramos quer não, somos forçosamente transportados para o cenário de dor, perda e dúvida onde os sons melodiosos e por vezes agressivos tornam tão fácil a visualização dos mesmos.

Sendo assim, passemos apresentação dos seis elementos que se juntam a nós nesta busca durante as 13 faixas deste projecto:

Mãe do narrador - uma sábia e bondosa mulher, que assume o papel de uma bruxa, onde dedicou toda a sua vida na ajuda de quem mais necessitava e na partilha dos seus conhecimentos pelos restantes sábios.
Narrador - o mais novo dos irmãos, apesar de inválido desde o seu nascimento, é um homem extremamente inteligente, que durante a sua jornada é constantemente confrontado com as suas dúvidas.
Irmão do narrador - este apresenta-nos uma personalidade fascinante, tem o dom natural de liderança, que no entanto corrompe todos aqueles que se atrevem a segui-lo.
Ao longo da história observamos como esta sua capacidade o transforma no líder da seita da própria aldeia.
Mulher do irmão - a paixão e o amor secreto do nosso narrador. Uma mulher inteligente que apesar de saber a verdade sobre o seu marido recusa-se abandona-lo.
Filha do Narrador - possui os poderes e a sabedoria da sua avô, foi criada pelo seu pai que sempre a ensinou a usar os seus poderes para o bem.
A seita - é composta por todos os aldeões corrompidos que se juntam ao Irmão. Acreditando que este lhes pode mostrar o caminho para a salvação…nunca desconfiam que tal é impossível.

Apresentações feitas e cenário montado. Está na altura de prosseguirmos viagem e entrarmos um pouco mais fundo na imaginação de cada um. Preparados?


Tales From Heaven and Hell é a nossa primeira paragem, a música começa com uns leves sons de chuva, trovoada, e um ligeiro barulho do vento que quase podemos sentir. Acompanhando estes eventos da natureza existe uma pequena melodia de uma caixinha de música. Devo dizer que não podia haver melhor intro para tal. No entanto não se deixem enganar pela suavidade com que somos confrontados.
A música desenvolve-se com um misto de guitarras, bateria, até à entrada da voz de Sabine, onde nos conta as dúvidas e nos mostra a dor da filha do narrador ao descobrir o diário do pai numa caixinha de música. Se de principio somos presenteados com suavidade o mesmo já não se pode dizer quando a música chega a mais de metade. É notável o trabalho do Pete e do Chris assim como o coro que entretanto se junta. Aliás, estes são os elementos chave que tornam este álbum diferente e rico.

Desembarcamos na aldeia onde a história é passada, é com Die Stadt que podemos ter um cheirinho das memórias do narrador e da descrição da própria. Uma aldeia abandonada, onde tudo parece vazio, desprovido de sentimentos alegres e sem cor. É assim que interpreto o começo desta música e a vocalização de Sabine. No entanto, tenho de dizer que acho a música extremamente aborrecida. O mesmo tom com que a própria é cantada e o acompanhamento instrumental tornam esta demasiado repetitiva, onde só nos refrões e mais para o fim conseguimos ver, neste caso ouvir, a evolução da mesma.
É-nos dito que se escutarmos bem conseguimos ouvir no sopro do vento as memórias perdidas e o rastio de esperança…é aqui que a inclusão do piano quebra um pouco esse ritmo e começa a fazer parte da história.

Caminhando mais um pouco, chegamos provavelmente à faixa mais banal do álbum que no entanto pode ser extremamente viciante: Show Me The Way.
Somos presenteados com a história da mãe do narrador, de como os seus poderes eram importantes e de como isso teve efeito na vida dele:

"Mind body and soul
Life love and healing
Connect be connected
Nine words to change your whole life"


Tal como a música anterior esta sofre da mesma constante repetição, é facil de memorizar e de cantarolar se tivermos a fim de…no entanto ao contrário da outra, a repetição desta não cansa e não aborrece (bem…a menos que a oiçam repetidamente e percam a conta de tal). Um elemento que achei crucial nesta faixa, foi mais uma vez o piano e como acompanha a voz da Sabine. A sonoridade deste vem mais uma vez quebrar um pouco a agressividade dos instrumentos e do todo em si.

A nossa história continua e à medida que vamos ouvindo mais um pouco vamos ficando a conhecer o que se esconde por detrás de cada personagem. É assim que a música Brothers nos dá a conhecer um pouco mais sobre os mesmos. O que os une, as suas diferenças e as suas cumplicidades.
Sinceramente não sei como hei-de explicar o efeito desta faixa. Ao princípio quando ouvimos a voz da Sabine podemos achar a dita sem força, talvez até um pouco fora do contexto instrumental da mesma…No entanto se ouvirmos com atenção e realmente entrarmos no espírito da história, pode ser vista como o simbolismo da fragilidade dos laços ou da promessa que nos é descrita.
O mesmo já não acontece quando somos invadidos pelos guturais de Tom que nos mostra esta mesma dualidade tão distinta.

A música seguinte, Salvation, apesar de ser uma continuidade desta história, só aparece no Maxi Single: Show me the way.
De todas as músicas, esta é uma das que nos remete mais facilmente para um espaço cénico quase teatral…um musical onde conseguimos ver exactamente o que se passa. Temos de um lado as vozes penetrantes dos habitantes, a angústia e a quase obsessão pelo perdão e pela salvação das suas almas. Novamente os sons guturais de Tom que se impõe tal e qual como um líder, ordenando respeito e medo.


É este mesmo medo que continua em Seit dem Anbeginn der Zeit. Chegamos então a um momento de paragem. É a primeira música do álbum em que desaceleramos o compasso. Não sendo a mais lenta, é certo, esta é como se fosse um respirar fundo e uma interiorização dos acontecimentos. Melhor parte? A forma suave como a Sabine nos conta e o contraste entre a própria melodia, que apesar de não ser tão pesada como as restantes também não é tão suave como se julga.

Promessas…é o que a nossa próxima música nos fala…quantas vezes as fizemos e quantas vezes as falhámos e as esquecemos?
O relembrar da infância e da promessa feita é o tema central destas duas faixa seguintes. Somos novamente confrontados com as três partes intervenientes na música Salvation. Basicamente entre a Remember The Promise e a Phoenix From Ashes assistimos à discussão entre os dois irmãos. Entre a ténue linha que divide o bem e o mal e qual destas o irmão do narrador pretende perseguir. Ambas as músicas conseguem montar um panorama dos sentimentos, da revolta e do resto que os separa.

Sendo assim e mudando radicalmente de cenário, How Long é a primeira balada do álbum, apresenta-nos pela primeira vez o ponto de vista da mulher do irmão e o eterno amor do narrador.
São contadas memórias e a descoberta da verdade, onde mais uma vez as dúvidas e angústia estão presentes assim como a tomada de uma decisão com o poder de mudar muita coisa.
A instrumentalização nesta faixa é divinal e a voz suave e doce da Sabine conseguem provocar um arrepio de satisfação, acaba por fazer parte de nós, não só pela própria letra como também a maneira com que consegue mexer com os nossos sentimentos.

A decisão é tomada com a Innocent Hearts e é aqui que voamos novamente para o ponto de vista do irmão do narrador. A chantagem emocional as ameaças perante a sua mulher são patentes e no entanto, estranhamente, quase podemos ainda ver o amor e a necessidade que ambos sentem em ficar juntos.
Quanto à música em si, penso que o ponto alto desta é mesmo a vocalização da Sabine e os papeis que assume ao longo da faixa, mas no entanto não encontro nada de novo para além disso.

Outra paragem…desta vez viajamos 1 ano no tempo e encontramo-nos novamente numa balada. A segunda deste album para ser mais exacta: Forgotten Love
Enquanto na primeira achei que a voz da Sabine tinha um papel principal, nesta o toque melancólico do violino rouba toda atenção, como se fosse um lamento da vida que o nosso narrador decidiu levar, das memórias e como se separou assim da aldeia e de todos.

Depois de andarmos um pouco aos saltos pelos sentimentos libertados pela faixa anterior, a seguinte de serenidade não tem nada. Talvez como a faixa mais marcante do álbum, The Burning é o ponto culminante de tudo.
A própria violência da música demonstra a acção e num jeito quase teatral a voz de sabine encara vários tons ao longo da música.
É aqui também que observamos o desenrolar o ‘quase’ fecho da história. É onde a verdade vem ao de cima, onde os habitantes da aldeia percebem finalmente que afinal quem seguiam não os pode levar a salvação quando ele próprio precisa dela.
Quanto ao resto do que se passa nesta música…não seria justo fazer um spoiler nesta parte.. ;)

New Decade…tem origem 10 anos depois, encontram-nos com a filha do narrador após ter lido o diário o pai.
Infelizmente como fecho da história a música é aborrecida, não como estava à espera, pelo menos a nível de ritmo e de instrumentalização assim como a participação de Sabine, que só melhora no refrão onde deixa de lado aquele sotaque esquisito, não natural e que por vezes tornar-se um pouco irritante…

O que este álbum tem de diferente? Ao ouvir o álbum completo sem paragens é notável a diversidade de melodias, a forma como o álbum não segue uma linha recta mas sim com vários desvios. A forma como este conceito consegue montar um palco e fazer de nós espectadores prontos a rumar viagem.
Nota-se uma grande evolução da própria banda, uma banda mais matura e mais ordenada que promete sempre mais alguma coisa e nos deixa na expectativa.
Devo dizer mais uma vez, que neste álbum, é marcante o trabalho do Pete e do Chris como guitarristas (sem tirar o mérito aos restantes!), os instrumentais são divinais e a forma como despertam adrenalina é gratificante. Mesmo nas partes mais repetitivas de algumas faixas há sempre um elemento que tenta modificar. Por vezes bem sucedido outras vezes não tão bem.

Por último, é obrigatório dizer que todo o conceito assim como as letras das músicas foram escritas pela Sabine, foi em memória desta que os restantes membros decidiram lançar o album…como um acto de amizade, de coragem…e que nos mostra que o tempo e a morte é um poço de saudade.

18 valores

Para mais informações sobre todo o conceito, da história, é recomendável que consultem: Griefshire Concept

Line up:
Sabine Dünser - Vocais
Pete Streit - Guitarra
Chris Gruber - Guitarra
Tom Saxer - Baixo, Guturais
Max Naescher - Bateria
Judit Biedermann (Nevertheless) - Violino na faixa "Forgotten Love"


Ana Teixeira (Lua Nova)

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