quarta-feira, 9 de julho de 2008

REVIEW Elis - God's Silence, Devil's Temptation [2003]

Tracklist:
1.For Such a Long Time
2.Where You Belong
3.Sie Erfasst Mein Herz
4.Do You Believe
5.Engel der Nacht
6.God's Silence
7.Devil's Temptation
8.Come to Me
9.My Only Love
10.Child
11.Abendlied



O primeiro trabalho da banda sobre o signo de Elis fez-se com este God’s Silence, Devil’s Temptation [Napalm Records, 2003], que nos chega em suaves tons outonais, inspirado a nível gráfico, lírico e, de certa forma, também musicalmente, nas ambiências desta estação do ano. Juntamente com o nome Erben der Schöpfung, os Elis abandonaram os meandros de uma sonoridade de forte componente electrónica, embora esta influência não deixe de se sentir neste e nos subsequentes registos do colectivo. Com o seu disco de estreia, o som dos Elis trilha os caminhos do rock/metal gótico, combinando peso das guitarras, cuja sonoridade estabelece um estilo mais rock que propriamente metal e a melodia do piano e voz de Sabine, sem esquecer o esquema de vocalizações Beauty & The Beast. No entanto, os Elis demonstram a originalidade deste projecto, apresentando dois elementos que já referi e que não são propriamente comuns no estilo – um deles, o piano, em substituição dos mais típicos órgãos e sintetizadores e a característica voz de Sabine, que alterna habilmente entre um timbre mais directo e rockeiro e a melancolia elevada do seu tom soprano.

God’s Silence, Devil’s Temptation foi produzido entre os anos de 2002/2003 nos Mastersound Studios, pelo produtor e músico Alexander Krul (LEAVE’S EYES, ATROCITY). Liricamente, o registo de estreia dos Elis explora temas humanos como a traição, o amor e as memórias perdidas, ao mesmo tempo que mergulha no caótico questionamento sobre Deus e a condição humana, tacitamente implícito no título do mesmo. A composição fica maioritariamente nas mãos dos fundadores, Pete Streit e Sabine Dünser, com três temas integralmente cantados na língua materna do colectivo, o alemão.

Such a Long Time é a faixa de abertura. Melodias de timbre electrónico (reminiscências da fase Erben der Schöpfung) misturam-se com as guitarras rock e o som do piano. A voz de Sabine alterna entre o seu timbre mais rockeiro e o tom de soprano que se evidencia no refrão. Destaque para a presença das guitarras, em múltiplos solos trabalhados, que vão definir desde já a típica sonoridade Elis.

Where you Belong arranca com os grunts do baixista Tom Saxer, tão característicos da sonoridade gótica, logo depois interrompidos pela beleza melódica da voz de Sabine, na faixa mais emblemática do disco, com um refrão que se recusa a abandonar a nossa consciência – “It’s where you belong/don’t you see/when memories are gone/sent to be free”. Tão catchy e viciante como uma qualquer canção pop.

Sie Erfasst Mein Herz é o primeiro tema do registo integralmente cantado em alemão, no tom suave e triste de Sabine que se ergue numa apoteose melódica, trabalhada sobre os teclados e o peso de guitarras que surgem no refrão. A delicadeza suave da voz de Sabine nas vocalizações em alemão torna-as a minha especial preferência. Um momento alto do disco.

Piano abre o tema seguinte, Do You Believe, onde os Elis mostram todo o seu potencial musical, com um arranque misterioso e cadenciado, dando lugar a uma entrada de guitarras bem rock. Velocidade é impressa na sonoridade dos Elis, mas nunca em demasia, dando-se lugar ao preferível ritmo cadenciado que culmina com novo refrão viciante, sempre realçado por um piano discreto, mas indubitavelmente muito presente. Alterna-se aqui, entre a velocidade e o peso, a melodia e momentos de calma.

Engel der Nacht traz a excelência da voz de Sabine erguendo-se em todo o seu esplendor nas vocalizações na sua língua materna. Delicadeza coroa o peso, originando um apogeu da sonoridade gótica dos Elis, com a melancolia plenamente expressa na voz de Sabine e no, sempre presente, piano.

Chegamos a meio do álbum para ir de encontro ao duo de temas centrais, escolhidos para intitular o mesmo. God’s Silence e Devil’s Temptation são os ex-líbris do álbum. A primeira mais leve que a segunda, mas não menos perturbadora. Liricamente, o conceito toma, nestes dois temas, um peso e uma força maior e quase sinistra. A temática Beauty & The Beast é aqui jogada nas vozes de Tom Saxer e Sabine, em doses equilibradas. God’s Silence apresenta agradáveis pequenos solos de piano que se intercalam com as vocalizações de Sabine, encontrando-se estas a determinada altura com o tom negro de Saxer, para culminar num refrão melancólico. Sabine envereda por vocalizações sinuosas e inquietantes, com as guitarras a realçar a ambiência rock. Devil’s Temptation evoca ambientes do interior de uma catedral abandonada. A voz de Tom Saxer tem aqui uma maior predominância, conferindo o peso, que contrasta com as vocalizações mais líricas de Sabine em todo o álbum, que se desdobram em coros sobrepostos, conjugadas com um tom desesperado e mais frio. As guitarras também têm aqui o seu momento, já quase no final, desenrolando-se em solos interessantes.

Chega a primeira (e podemos considerar, única) balada – Come to Me. Como seria de esperar, o piano domina aqui a secção melódica, com evidente destaque para a prestação vocal de Sabine que dá mostras mais do que confirmadas da beleza da sua voz, desdobrando-se em múltiplas sobreposições.

A veia rock gótico dos Elis volta em força com My Only Love, um tema em que a harmonia e as guitarras se combinam com a voz de Sabine para criar aquilo que nunca falta num álbum do género, algo entre uma possível balada e uma canção rock. Destaque aqui para o timbre que a vocalista adopta na maior parte da composição – um tom directo e rockeiro.

Child é, para mim, a pérola deste registo - um tema lento e compassado, em que a voz de Sabine atinge a excelência nos tons elevados, absolutamente soberba e etérea. Child representa, para mim, aquilo que de melhor os Elis faziam em 2003 e é, ainda hoje, uma das músicas de que mais gosto. O piano apresenta uma composição envolvente, coordenada de forma perfeita com o peso dos restantes instrumentos, dando predominância ao tom inesquecível de Sabine.

Abendlied é o tema final, uma composição integral em piano, perfeita para escutar com toda a atenção a voz melancólica e doce de Sabine.

God’s Silence, Devil’s Temptation é um álbum para os apreciadores do rock/metal gótico interessante e de qualidade e uma peça mais do que indispensável para os apreciadores das vozes femininas do metal, as Senhoras do Metal. Em 2003, foi o começo promissor da carreira dos Elis.
16 valores
Formação:
Sabine Dünser (RIP) – voz
Pete Streit – guitarra
Jürgen Broger – guitarra
Tom Saxer – baixo e voz
Franky Koller - bateria
Inês Martins (Lua Minguante)

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