quinta-feira, 17 de julho de 2008

EDITORIAL Julho/Agosto (3ª edição)


A tradição manda que cada nova edição das Senhoras do Metal tenha início no dia 15 de cada mês. No entanto, no mês de Julho/Agosto decidimos ser rebeldes e atrasar a edição um dia. Não, caros leitores, ainda não entrámos na silly season. A verdade, é que as Senhoras do Metal trabalham e estudam e, por vezes, seguir um plano à risca está para além das nossas forças. Mesmo esta Senhora do Metal que vos escreve está a esforçar-se ao máximo por manter os olhos abertos.

Por vezes, é difícil conciliarmos as nossas paixões com os nossos day jobs. É difícil, após um longo dia de trabalho ou de estudo, sentarmo-nos à frente do computador e pesquisar notícias, ou fazermos reviews… ou escrevermos o editorial do mês. Chega a ser desgastante e exige uma grande entrega, energia e força de vontade da nossa parte. No entanto, fazemo-lo por paixão e, no final, o esforço acaba por ser compensador.

Num mundo ideal, o nosso trabalho seria a nossa paixão e a nossa paixão seria o nosso trabalho. Claro que este é o sonho de quase todos aqueles que têm de acordar de manhã cedo para enfrentar a longa jornada diária. Vivemos num país em que ter um emprego de que se gosta é um privilégio de poucos.

Num destes dias, lá no meu posto de trabalho, mostrei o blog a uma colega. Embora ela não seja uma apreciadora de Metal, achou o projecto interessante. E disse: “um dia ainda hão-de ter a vossa própria revista”. Eu devo ter dado uma risada e dito uma piada. Uma revista. Pois sim. Claro que esse era o nosso sonho, mas reconhecemos é praticamente inatingível. A crise dos órgãos de comunicação é generalizada, e aqueles que se dedicam a cenas mais underground também não lhe escapam. A própria Loud! – a revista de referência do Metal em Portugal – já ameaçou encerrar. Felizmente existe a Internet, onde proliferam projectos interessantes e originais. No entanto, não são projectos profissionais porque as pessoas que trabalham neles, embora sejam empreendedoras, não têm a possibilidade de o fazer a tempo inteiro. Infelizmente.

Esse é o problema da cena em que estamos inseridos. Um dia, estava a ler uma entrevista dos My Dying Bride em que eles confessavam ter day jobs. E quando o jornalista os inquiriu sobre os seus empregos, os elementos da banda recusaram-se a revelar. O Aaron (vocalista) respondeu que preferia que os fãs continuassem a imaginar que eles vivem num castelo, no alto de um penhasco batido pelo mar, a beberem vinho enquanto, à luz de velas, compõem o próximo álbum. E não deixa de ser um pouco perturbador pensar que os My Dying Bride – uma das bandas mais importantes do Metal, co-fundadora de um subgénero – não vive exclusivamente da música. A verdade, é que poucas bandas conseguem sobreviver apenas com a música que criam. Temos alguns exemplos, como os After Forever ou os Within Temptation, mas tratam-se das excepções que só ajudam a confirmar a regra.

O sonho de qualquer músico é viver da sua arte. Mas alguns não conseguem, sequer, conciliar as suas bandas com os seus empregos. Outros têm de enfrentar sérios problemas financeiros. Estou-me a recordar dos Trail of Tears, em que os membros debandaram a meio de uma tour, deixando o líder e fundador a tentar tocar o barco sozinho. Problemas financeiros geraram discussões e desentendimentos no seio da banda. Em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.

Outras bandas vêem-se confrontadas com a decisão de alargarem o seu espectro musical para se tornaram acessíveis a um público mais vasto. Foi o caso dos Nemesea, que após um início de carreira promissor, lançaram um álbum medíocre que, supostamente, teria um som mais “moderno”. In Control é um álbum pop. Não tenho nada contra a música pop – aliás, gosto de muitas bandas que caem neste género musical – mas o que aconteceu é que os Nemesea deixaram de fazer aquilo em que eram realmente bons para se lançarem numa aventura que se revelou um beco sem saída. A aventura chamou-se Sellaband – uma empresa que vende, online, “partes” de uma banda. Quando esta está totalmente “vendida”, pode finalmente gravar um álbum. E o que fazemos quando queremos que o maior número possível de pessoas nos compre? Tentamos agradar a toda a gente!

Isto não uma crítica à música comercial. Alguns colectivos fizeram esta passagem do underground para o estrelato sem macularem a qualidade do seu trabalho. Embora discutíveis, temos dois exemplos de grande monta: os Nightwish e os Within Temptation. Duas bandas que tiveram oportunidade de concretizar o sonho de viverem exclusivamente da sua arte, mas que, ainda assim, continuam a lançar excelentes álbuns.

No entanto, apesar de todas estas dificuldades, é admirável como o Metal continua a ser um género tão rico, com tantas bandas que atingiram um elevado nível de profissionalismo, embora os seus membros continuem a ensaiar apenas aos fins de semana, a enfrentarem diariamente as horas de ponta, os transportes públicos e, muitas vezes, empregos pelos quais não sentem qualquer paixão. Nós, aqui no blog, tentamos prestar tributo a este esforço, através do nosso trabalho quase diário para trazermos até aos nossos leitores notícias actuais, reviews pertinentes e curiosidades interessantes sobre as Senhoras do Metal e as suas respectivas bandas.

Mas, como todos os guerreiros, até as Senhoras do Metal deste blog precisam de descansar. Durante esta edição, algumas de nós estarão meio arredadas da Internet e não poderão postar com tanta frequência. Contudo, para garantir que este nosso cantinho continuará a ser actualizado com a mesma regularidade, chamámos reforços! Assim, teremos entre nós a Senhora do Metal Cátia Alves, que colaborará connosco durante o mês Julho/Agosto. Dêem-lhe as boas vindas!

Como sempre, teremos a rubrica Senhora do Metal do Mês que, desta vez ,será dedicada a uma grande senhora que actuará em Portugal em Agosto. Já adivinharam quem é?
Teremos também a primeira review de um álbum de uma banda portuguesa. E muito, muito mais!

Fiquem connosco, não se vão arrepender!

Cláudia Rocha
e
Ana Teixeira, Inês Martins e Milene Emídio

10 comentários:

Intravenoso disse...

é realmente triste a situação actual
continuarei cá a apoiar dentro dos possiveis as bandas que gosto de ouvir!
uma banda de metal faz o que faz porque realmente gosta de o fazer e daí o metal ser um estilo musical tão "puro" e pouco influenciado por razões fora da arte.

ass: Dark Side

Anónimo disse...

Pois é, acho que toda a gente gostaria de ter uma profissão de que realmente gostem, mas a maior parte das pessoas não tem essa oportunidade, recceio ir pelo mesmo caminho..
Fiquei surpresa ao saber que há bandas como os My Dying Bride que não vivem apenas da sua música, acho normal que no início a maior parte das bandas tenham que ter os dois "empregos", mas pensei que como os WT e Nigtwish, que referiste, acabassem por se dedicar apenas à música! Devo ser mesmo ingénua..
Adorava que um dia tivessem a vossa própria revista, foi uma das primeiras coisas que disse à Inês quando ela me falou do blog, e não era uma piada.. =X
Ah e obrigada por me teres mencionado, não sabia que o fariam no editorial, não estava à espera X) Espero para a semana já poder contribuir e que gostem do que fizer *nervous*
Cátia*

Anónimo disse...

Lá está... É muito difícil viver daquilo que se gosta hoje em dia. Quando li a passagem em que fala dos Nightwish lembrei-me de uma coisa importante: Os Nightwish vivem da música sim senhor, mas, todos eles têm side projects e só conseguem viver da música porque têm outras bandas nas quais dão o seu contributo.

Sê bem vinda Cátia, dá-lhe com força ;) (ia a dizer "dá-lhe com FE" mas parecia mal xD)

Anónimo disse...

Os membros dos NW so conseguem viver da musica prk tem bandas paralelas ? bullshit lol os NW sao uma maquina de fazer dinheiro e os projectos paralelos em q eles as vezes participam sao apenas para diversao e nada mais, aparte do Marco que continua nos Tarot como membro permanente ! Agora se os outros, e ate mesmo o Marco, estao em outros projectos, nao se deve certamente ao dinheiro ... lol
Em relaçao ao editorial esta excelente, parabens a senhora do metal que a escreveu :)

Senhora do Metal disse...

Antes de mais, bem vinda Cátia :D

Também me parece que a maior fonte de rendimentos dos elementos da banda é mesmo os Nightwish. E não acho mal, já que - preferências de vocalistas à parte - eles merecem ;)

Cláudia, Lua Crescente

Anónimo disse...

Bem, é verdade que os Nightwish são uma máquina de fazer dinheiro, mas ainda assim, como diz uma amiga minha, "a malta tem contas pa pagar" e eles só com os Nightwish não iam lá... Os Mayhem também são uma máquina de fazer dinheiro e ainda assim o senhor Blasphemer fundou os Ava Inferi, os Moonspell também são uma máquina de fazer dinheiro e ainda assim o Fernando teve um projecto paralelo durante montes de tempo (Deamonarch), os Slayer também são uma máquina de fazer dinheiro e ainda assim o Dave Lombardo não dispensa as participações no estúdio dos Apocalyptica, os Soulfly também são uma mina de ouro e o Max tem os Cavalera Conspiracy, os Pantera também eram uma galinha de ovos de ouro e ainda assim o Phil Anselmo nunca deixou os Down... É muito difícil viver disto só com uma banda, é uma regalia que apenas alguns grandes nomes se podem dar ao luxo de ter... Não digo que a maioria dos rendimentos de Tuomas e companhia não sejam os Nightwish, mas "maioria" não significa "totalidade" e eles só com os Nightwish não se governavam...

Senhora do Metal disse...

Pois eu não sei se será bem assim. Os projectos paralelos dos membros dos NW (bem, os Tarot não são propriamente um projecto paralelo do Marco)não são assim tão "grandes" e penso que, do ponto de vista monetário, poderiam viver sem eles.
Eu penso que os projectos paralelos surgem por outra razão: tem a ver com criatividade em, alguns casos, fazer algo fora do estilo da banda principal.

Um abraço \m/

Cláudia, Lua Crescente

Anónimo disse...

Claro que sim, mas também são usados para eles poderem ganhar algum.
Eu coloco algumas reticências na parte dos Tarot serem um projecto paralelo do Marco, pois os Tarot já existiam antes de ele entrar para os Nightwish... Nesse aspecto acho que os Nightwish, apesar de terem um nome maior, é que são a segunda banda dele lol... Mais ou menos como o Phil Anselmo e os Down. Os Down já existiam antes dos Pantera e tinham o Phil como vocalista, só que, lá está, os Pantera ficaram mais conhecidos, mas a primeira banda dele foram os Down

Anónimo disse...

Gostava que me dissesses os projectos paralelos dos membros dos NW, que eles precisam tanto para viver ja q se fosse so pelos NW eles nao se governariam Sergio ! Talvez me esteja a falhar assim algum projecto paralelo que não me recorde prk todos os que conheço sao como a moderadora disse, projectos para expandir a criatividade de cada um, projectos apenas para diversão ! ;)

Anónimo disse...

Parabéns Cláudia pelo excelente editorial!
Apesar de pouco tempo para dedicarem ao blog, devido aos vossos compromissos profissionais, é de louvar a vossa dedicação e investimento neste projecto. Já se tornou, sem dúvida, um ponto de referência para todos aqueles que apreciam Metal!Pelo menos para mim, já é um local de passagem habitual. :)
bjs

Patrícia \m/