quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sabine Dünser - "My Heart and Soul"


“My heart and soul are filled with sadness
Deep as grey oceans in your eyes”
Forgotten Love, Elis, Griefshire 2006

Comecei e recomecei este texto diversas vezes, hesitante e desconfortável. Recolhidos os dados nominativos e descritivos, tinha pedaços de biografias, pedaços de entrevistas, pedaços da vida que passou de Sabine. Tarefa extremamente emocional para mim, foi-me e é-me difícil escrever sobre isto, encontrar maneira de falar desta mulher e da sua vida e dos seus sonhos. Estranha a sensação de quando uma voz nos toca a alma e parece que nos fala para dentro e por dentro de nós, que temos a sensação de conhecê-la tão bem, que essa voz se torna nossa também. Não queria falar da morte de Sabine (contrariamente à grande maioria dos artigos que surgem perante nós quando pesquisamos o seu nome no Google). Sabia que queria falar da sua vida e da sua música, da sua voz e das suas melodias, das letras que escreveu e cantou. Mas os dados, essa matéria-prima sobre a qual deveria trabalhar, entristeciam-me. Nas entrevistas era a voz de Sabine que eu lia, falando entusiasmada de tours e concertos futuros. Nas biografias desenhava-se, quase friamente, um percurso musical que foi resultado de um dom para a música que despertara cedo em Sabine. Lia e descobria coisas que desconhecia. Que Sabine tocava piano e que os teclados que ouvimos nos temas dos Elis são da sua autoria. Que a voz foi desde cedo parte da sua vida – cantou em múltiplos coros e musicais, teve mais tarde aulas de canto e nem um problema a nível das cordas vocais a conseguiu afastar do seu sonho. Profissionalmente, Sabine estudara terapia e era terapeuta da fala, trabalho que nunca chegou a abandonar durante toda a sua vida. O seu sonho era um sonho comum entre músicos – viver, única e exclusivamente, da música que compõem. O sonho nunca se cumpriu, mas começou em 2000 com o projecto musical que fundou - Erben der Schöpfung (numa tradução livre significa “Herdar/Herança da Criação”), que deu origem, mais tarde e, com a saída de um dos membros, à banda Elis. Natural do pequeno Liechtenstein, a vida de Sabine, enquanto Senhora do Metal escreve-se na vida deste seu projecto musical, que começou em 2001, com o primeiro single Elis e o álbum de estreia Twilight. Após apresentação ao vivo no Festival Wave Gotik em Leipzig, a carreira da banda levou um impulso ao ser reconhecida pela imprensa alemã como a banda revelação do ano. Dois anos depois os Elis entravam em estúdio para gravar um novo álbum, produzido por Alexander Krull (Atrocity, Leaves’ Eyes) – nascendo aí God’s Silence, Devil’s Temptation que os levou em tour pela Alemanha, Suíça e Bélgica. Um ano depois saía Dark Clouds in a Perfect Sky, igualmente produzido por Alexander Krull e mostrando o crescimento e maturidade da banda. A The Dark Clouds Tour levou os Elis a tocar pela Alemanha, Áustria e Bélgica, conjuntamente com os Visions of Atlantis e os Lyriel, seguida de nova tour já na companhia dos Battelore e dos amigos Atrocity e Leaves’ Eyes. Um novo álbum começou depois a ser preparado, um projecto conceptual pensado e escrito por Sabine, que criou para ele todo um enredo narrativo. O álbum póstumo viria a ser chamado simbolicamente Griefshire (Terra da Dor) e foi lançado em Novembro de 2006, em memória de Sabine, que a ele se referia carinhosamente como “meu bebé”.

A história poderia terminar aqui, um percurso curto de apenas 6/7 anos, resumidos em 4 álbuns, mas Sabine foi como “aqueles, que por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando”, como dizia o poeta. Dela ficou um percurso de força de vontade e determinação evidentes, quando num país tão pequeno como o Liechtenstein se escolhe o obscuro sonho de ter uma banda de metal gótico, anichada numa minúscula cena metal quase irrisória neste país. Nada que impedisse Sabine e restantes companheiros de banda, de contrariar todo o cenário fatalista e encetar um projecto de criação de música negra, gótica e de profusos ritmos rock. Dela ficou a sua música, as suas letras, a sua voz e, com ela, uma parte da sua vida, da sua alma, do seu sonho. Combinando peso de baterias, guitarras e guturais, melodias vocais e paisagens elaboradas por teclados, a música dos Elis é ponto incontornável do metal gótico, assim como a voz etérea de Sabine o é, incontestavelmente.

Termino ao som de Forgotten Love, tema do último álbum Griefshire, todo ele ainda gravado com a voz de Sabine. Lembro a minha determinação inicial - não queria escrever sobre a partida de Sabine, mas sei que a emotividade que me levou em cada linha, foi essa. Fugir do sentimento é impossível e na minha busca por pedaços da vida de Sabine para escrever este texto, encontrei muitas preciosidades desta sua vida que ficou, não posso evitar dizê-lo, tristemente incompleta. A música que me acompanha faz a catarsis das minhas emoções e em cada verso, a voz de Sabine canta palavras que assumem um imenso significado. Estranho ou não, a voz de Sabine demorou, quando a ouvi pela primeira vez, a penetrar no meu espírito. Mas, subitamente, um dia, estava lá. Mas ela já não.



A voz ficará sempre.



Sabine, descansa em paz, canta com os anjos. E obrigada pelas horas de felicidade, calma e sonhos que me deste.






Elis - membros:
Sabine Dünser (RIP) - Voz (2000– 2006)
Sandra Schleret - Vocals (desde 2006)
Pete Streit - Guitar (desde 2000)
Chris Gruber - Guitar (desde 2005)
Tom Saxer - Bass, Grunts (desde 2000)
Max Naescher - Drums (desde 2004)

Discografia:
Erben der Schöpfung:
Twilight – 2001
Elis (Maxi CD) - 2001

- Elis
God's Silence, Devil's Temptation - 2003
Dark Clouds in a Perfect Sky - 2004
Griefshire - 2006
Show Me The Way MCD - 2007

- Singles
"Der Letze Tag" - 2004
"Show Me the Way" - 2007


- Videos
"Der Letzte Tag" - 2004



"Past is haunting me
Fragments of memory
disturb my peace of mind
Hours of delight
now seem a thousand years away
I was a fool to let you go


My heart and soul are filled with sadness
Deep as grey oceans in your eyes
My heart and soul are filled with sadness
Despair spreads its fingers around my mind


Days of love and hope
were followed by aeons of loneliness
as darkness sunk into our hearts
The other one’s shadow
stood between us, a silent wall of doom
darkening the sky

My heart and soul are filled with sadness
Deep as grey oceans in your eyes
My heart and soul are filled with sadness
Despair spreads its fingers around my mind

Only memories remain
in a world now cold and dark
Where flowers grew now dust has covered everything

Crying doesn’t help anymore
so what can I do?
Torn in pieces is my heart
I don’t know where to go"




Inês Martins, Lua Minguante

5 comentários:

Anónimo disse...

"Estranho ou não, a voz de Sabine demorou, quando a ouvi pela primeira vez, a penetrar no meu espírito"

Eu lembro-me disto lol. Acho que até fui eu que disse "ouve com mais atenção, vais gostar" x]...

Enfim... Mais uma grande perda a juntar a outras tantas...

Senhora do Metal disse...

Adorei este texto. É uma linda homenagem à Sabine :)

Cláudia, Quarto Crescente

Lucrécia Bórgia disse...

Tocou-me muito este teu texto sobre a Sabine. Só podia ter sido escrito por ti. Parabéns.

Anónimo disse...

minha deusa eterna do gotico metal sombrio estara sempre comigo!!
para ti the perfect love ...

Anónimo disse...

A carícia de estrelas
Uma silhueta no céu crepuscular
A alvorada conjuntos em mares de prata
Meu nome ecoa através dos montes No horizonte, onde nuvens mares se encontram
A paisagem brilha além da realidade
Olho um mundo como uma estrelas iluminadas. Com a certeza que um dia vamos nos encontrar novamente e brincar com as estrelas.