quarta-feira, 28 de maio de 2008

REVIEW Draconian - Turning Season Within [2008]

Tracklist:

1. Seasons Apart
2. When I Wake
3. Earthbound
4. Failure Epiphany
5. Morphine Cloud
6. Bloodflower
7. Empty Stare
8. September Ashes




Embora ainda pouco conhecidos, e reconhecidos, na cena metálica, os Draconian não são novos nestas andanças. Com catorze anos de existência e quatro álbuns editados, a banda tem construído uma carreira sólida, embora distantes dos palcos dos grandes festivais. No entanto, a sorte destes suecos pode estar prestes a mudar. Depois da participação na anterior edição do Female Metal Fest, os Draconian presenteiam-nos, em 2008, com este Turning Season Within.

O som dos Draconian não prima pela originalidade: é gothic metal, com fortes influências doom, coroado por possantes grunts masculinos, a cargo do vocalista e letrista Anders Jacobsson, e pelas vocalizações etéreas de Lisa Johansson. O contraste Beauty & the Beast, tão em voga nos anos 90, já não é novo, e tem sofrido uma certa saturação. Mas o objectivo aqui não é inovar, mas sim criar música poderosa e emotiva. E se gostam de música com estas características, e de bom gothic/doom metal, então este é o vosso álbum.

Quando ouvimos Turning Season Within pela primeira vez, somos imediatamente capturados pela sua grandiosidade. A produção é cristalina, os instrumentos perfeitamente audíveis, e as vozes integram-se harmoniosamente com os restantes elementos sem se sobreporem demasiado. O som é maciço, coeso e pesado, criando um ambiente quase épico, que não está presente em nenhum outro trabalho dos Draconian. E desenganem-se aqueles que esperam mais música em marcha lenta – as faixas são mais uptempo do que é costume no som da banda.

Neste trabalho, os Draconian conseguiram unir os melhor dos seus dois álbuns de longa duração: o romantismo e melancolia do Where Lovers Mourn, e o peso e ambiências sombrias do Arcane Rain Fell. As letras falam de sentimentos e relações humanas: amor, dor, tristeza e desespero, porém não soam minimamente "lamechas". Há algo de muito genuíno na forma como a toda a banda interpreta a sua música, especialmente os vocalistas. O Anders e a Lisa cantam com tanta paixão e convicção, que, enquanto o fazem, eu acredito em tudo o que eles me dizem.

Mas embora estejam presentes todos os elementos a que os Draconian já nos habituaram, não houve medo de arriscar um pouco e acrescentar outros novos. Para além da incursão por um som mais pesado e mais uptempo, foram também incluídas guitarras acústicas e a presença de Lisa tornou-se mais dominante. Se em Arcane Rain Fell, surge quase como uma back vocal, aqui ela encontra-se no mesmo patamar de Anders. A sua voz amadureceu, transmitindo uma maior variedade de emoções, tornando esta a sua melhor prestação em estúdio até ao momento. Por sua vez, Anders brinda-nos com os seus fantásticos guturais que, na humilde opinião desta escriba, encontram-se entre os melhores do Doom Metal. Anders consegue, ao mesmo tempo, soar brutal, intenso e melódico. Os seus guturais são compreensíveis, não sendo necessário ir ler as letras para compreender o que ele está a dizer.

Seasons Apart é a primeira faixa, dando o mote para o resto do álbum. A abertura é bombástica, com guitarras imponentes, que dão lugar a um teclado delicado e à voz suave de Lisa. Anders entra logo de seguida, e o ritmo torna-se mais intenso. Esta dualidade entre violência e suavidade continua ao longo desta música, e faz-se sentir, de forma dinâmica, em todo o álbum.
Segue-se a When I Wake, talvez a faixa mais pesada do álbum. Aqui, Anders toma a dianteira, mas Lisa acompanha-o e a sua voz soa tão fria que, por momentos, é quase irreconhecível. Muitas mudanças rítmicas e uma bateria forte são outros pontos altos de uma faixa bastante atípica no estilo dos Draconian, mas que resulta muitíssimo bem.

Earhbound é a música mais longa e a minha favorita. Apesar dos seus oito minutos, em momento algum se torna monótona. É talvez a faixa mais variada, que mostra o melhor de que os Draconian são capazes. Uma vez mais, as vozes dos dois vocalistas vão-se intercalando, e intensidade vai crescendo até culminar numa comovente marcha fúnebre encabeçada por Lisa.
Not Breathing é outra favorita, e o refrão cantado por Lisa é o mais "catchy" do álbum. Failure Epiphany dá destaque às guitarras acústicas, sendo talvez uma das músicas mais originais dos Draconian. Outro grande refrão, cantado por Anders e Lisa.

Morphine Cloud é a faixa mais doom de TSW, e a mais tradicional, que conta com todas os elementos a que a banda sueca nos habituou. Lenta e melancólica, com riffs chorosos, poderia fazer parte do Arcane Rain Fell.
Bloodflower tem uma estrutura mais simples, e a melhor prestação de Lisa neste álbum. Por sua vez, Empty Stare é outro grande momento doom, onde estão presentes influências dos Novembers Doom, confirmadas pelo próprio Anders. O refrão cantado por Lisa é o mais melancólico do álbum.

Para fechar com chave de ouro, September Ashes é um epílogo com cerca de um minuto, em que Paul Kuhr, dos Novembers Doom, declama um pequeno poema, apenas acompanhado por um piano.

Ao longo dos anos, os Draconian têm apresentado trabalhos de inegável qualidade, e recebido excelentes reviews. Como tal, não deixa de ser surpreendente que o sexteto dê tão poucos concertos e não esteja presente nos grandes eventos. Espero que, com este álbum, a estação mude e possamos vê-los brevemente ao vivo, em Portugal. Enquanto esperamos, ficamos com este Turning Season Within, que já se conta entre os melhores álbuns de 2008.

Destaques: Earthbound, Not Breathing, Failure Epiphany, Bloodflower

19 Valores


Line-up: Lisa Johansson (voz), Anders Jacobsson (voz), Johan Ericson (guitarra), Jerry Torstensson (bateria), Frederik Johansson (baixo), Daniel Arvidsson (guitarra)

Cláudia Rocha - Quarto Crescente

4 comentários:

Senhora do Metal disse...

sem resistir a deixar comentario em honra deste texto que adoro^^ lindissima escrita que dá vontade de fruir a música por inteiro e ter nas mãos o CD^^ excelente trabalho Claudia^^

Metal no Feminino Sempre!

Lua Minguante

Anónimo disse...

Ouvia Draconian ocasionalmente, mais quando deixava o meu leitor a reproduzir faixas aleatoriamente; Com TSW isso mudou. É tão bom ouvir um álbum sem expectativas e no fim bater palmas de admiração.
Os guturais são espantosos, fabulosos do melhor na cena do metal (que eu conheço), as melodias harmoniosas, poderosas, cheias de sentimento; Lisa, uma voz que quanto a mim não é muito valorizada,mas que é inegável a sua beleza; as guitarras acústicas que dão um toque perfeito, mas o melhor mesmo é a interpretação do Anders e da Lisa que, como disseste Cláudia, nos fazem acreditar no que dizem. É puro talento! É um rasgo de inspiração!

Espero sinceramente ouvir Draconian uma vez ao vivo.

As minhas favoritas são Earthbound, The Failure Epiphany, Bloodflower e When I Wake.

(excelente review. Continuarei a lê-las com muito gosto. Podem linkar ao meu blog se quiserem. Parto do princípio que posso fazer o mesmo no meu)

Pedro Rodrigues disse...

Ola... A review esta simplesmente divinal, para aquele que ate agora eu considero um dos albuns do ano.

Parabens!!!

E claro que podem linkar o Rockandnews.com no blog.

Pedro Silva disse...

Bem, embora observe este projecto com interesse há já algum tempo (agradeçam á Claudia), finalmente decidi contribuir com comentarios.
Primeiro k tudo quero felicitarvos pelo projecto, sou completamente a favor duma mudança de mentalidade.
Concordo plenamente com o review e acho k a cotação 19 é adequada porque só não merecem 20 por não trazerem nada de significativamente novo ao Metal... Mas é provavelmente o meu album favorito de uma das minhas bandas favoritas... Adoro a voz da Lisa (está provavelmente empatada com a Simone como minha cantora favorita) e o album atingiu um patamar de perfeição bastante dificil de superar, com belissimos guturais e riffs deliciosos. Não consigo deixar de suster a respiração e fechar os olhos cada vez que oiço a Morfine Cloud ou a The Failure Epiphany... Uma verdadeira obra de arte :)