quinta-feira, 22 de maio de 2008

Review - Nightwish - Concerto em Lisboa - 19 de Abril de 2008

Já fez um mês desde que os Nightwish estiveram no nosso país.
18 e 19 de Abril. Duas datas com lugar marcado no Coliseu do Porto e no Coliseu de Lisboa, respectivamente. Foi o regresso da banda finlandesa Nightwish a Portugal e a primeira passagem por estes lados já com a nova vocalista, a sueca Anette Olzon.

A qualidade dos músicos que compõem a banda seria mais que suficiente para diminuir qualquer cheiro de controvérsia, mas esta tende a implantar-se com uma firmeza nada subtil. Sentimento de expectativa que crescia já há muitos meses para os fãs mais dedicados, com bilhete adquirido imediatamente depois de estes terem sido postos à venda e que foi aumentando exponencialmente à medida que o tempo passava e Abril se aproximava.


A Longa Espera


Dia 19, faltam dez horas para a abertura das portas do Coliseu e o sentimento é de uma expectativa incontrolável. E nem o mau tempo pareceu afectar os mais dedicados fãs que se deslocaram a Lisboa, debaixo de uma chuva teimosa, de um vento frio e preparados para uma longa espera. Casacos escuros e roupa preta, sorrisos que nem o adverso clima perturba e olhos brilhantes, os fãs procuram abrigo de encontro às portas fechadas, debaixo de telheiros, atrás do camião do equipamento e aguardam ouvindo mp3, conversando, fazendo sinal aos amigos que chegam. Algum tempo depois (ora chovia, ora parava de chover) somos comprimidos entre uma grade e as portas ainda fechadas do hall do Coliseu. Apesar do espaço exíguo os ânimos não foram abalados. Mais uma hora de espera e as portas abriram-se finalmente. Os grupos ocuparam os seus lugares, sentados, encostados às paredes, outros às grades, encolhendo-se, dando espaço. A espera iria ser longa e fez-se quase sempre acompanhada dos sons dos mp3, tocando Nightwish. Jogou-se às cartas, conversou-se, conferiu-se mil vezes a possível setlist, houve quem trouxesse um livro para passar o tempo. A controvérsia era bastante inevitável e por muito que se queiram polémicas aparte, as atenções centravam-se, quase inevitavelmente, na prestação da vocalista que tinha, segundo alguns (ou se calhar, todos), provas a dar.

Nove horas depois a espera tinha-se tornado insuportável. Às 19.30h já ninguém jogava às cartas, muito poucos ainda escutavam a música nos seus phones. Ninguém estava já sentado e alguns engoliam em seco uma sandes qualquer. A ansiedade atingira o pico e quando as portas finalmente abriram, iniciou-se uma corrida louca para dentro da sala. A multidão comprimiu-se contra as grades em frente ao palco, onde o material silencioso da banda de abertura, os suecos Pain, aguardava.

O Concerto


Mais algum tempo de espera com toda a gente demasiado feliz para se sentir incomodada pela falta de espaço. Conversas em diferido espalhavam-se por todo o lado e pouco depois Peter Tägtgren e restante banda subiram ao palco, fazendo soar o seu metal industrial, com predominância dos temas do último álbum Psalms Of Extinction.


Alguns problemas técnicos a nível de som impediram-nos de usufruir em pleno da música, com a bateria a sobrepor-se em demasia aos outros instrumentos e soterrando a voz do versátil vocalista, que tanto se entrega a linhas melódicas como solta berros roucos. Apesar dos problemas técnicos, a simpatia dos membros dos Pain pareceu conquistar a audiência que os aplaudia com generosidade.



Esperava-nos uma surpresa no final, com a entrada dos Nightwish em palco, que se juntaram à banda para tocar o tema dos Pain, Shut Your Mouth. Com cerca de 10 pessoas em palco, Anette e Peter partilhando os vocais, os outros membros das duas bandas espalhando-se pelo espaço e assumindo os instrumentos respectivos e os restantes membros fazendo backing vocals no refrão, este momento foi o final mais que perfeito para a primeira parte de um concerto que seria memorável.

Meia hora depois e, felizmente, resolvidos os problemas a nível de som, o Coliseu de Lisboa encheu-se finalmente do power metal sinfónico dos Nightwish orquestrado pelo mestre-de-cerimónias Tuomas Holopainen, para aquela que seria uma noite em que nenhum desejo ficaria por cumprir.

Foi nesse espírito que a banda deu entrada em palco, após introdução de três minutos, com um dos recentes singles, Bye Bye Beautiful – tema de apologia de uma verdadeira nova era. A nova bela de Tuomas Holopainen e companhia entra no palco para os primeiros versos que se lançam depois, na companhia de Marco Hietala (baixista e vocalista), num intenso refrão.




Segue-se Dark Chest of Wonders e a prova de fogo para Anette, perante uma das composições de vocalização mais operática dos Nightwish. Anette toma conta do microfone oferecendo ao público a sua própria interpretação das vocalizações de Tarja Turunen e apesar de a música perder um pouco do seu peso, não deixa ainda de ser uma experiencia memorável com Anette a contornar as notas mais elevadas com a sua própria tonalidade vocal.


No momento seguinte volta-se a terreno seguro e a uma das melhores exibições de toda a banda e da nova vocalista. Whoever Brings the Night. Anette sofre autêntica metamorfose perante os nossos olhos e ouvidos, lançando olhares maliciosos e atrevidos à audiência numa interpretação directa da paisagem musical e da letra e numa das suas melhores prestações vocais.

Nova prova de fogo, desta vez muito mais bem sucedida, embora tivesse havido quem não gostasse. Ouve-se a melodia encantatória de The Siren e a voz doce de Anette oferece-nos uma performance de grande qualidade, mais uma vez numa interpretação própria e livre dos momentos mais operáticos, levando-nos estranhamente a descobrir que a música funciona muito bem sem eles. A combinação das vozes de Anette e Marco funciona na perfeição.


Amaranth explode no palco, a banda explode em energia e a voz de Anette surge bombástica num dos novos singles, provando este ser um tema especialmente feito à imagem e semelhança da sua capacidade vocal.




O primeiro momento mais calmo da noite segue-se, trazendo consigo a emoção de The Islander. Entram as guitarras acústicas, Marco senta-se numa cadeira e os acordes da música enchem uma noite já bem aquecida. Primeiros versos de uma bela história sobre um velho do mar e Anette entra novamente em palco, trazendo uma coroa na cabeça, qual princesa na torre de que nos falam as letras. Suavidade e beleza, excelente combinação de ambas as vozes e um dos momentos altos da noite.

Eis senão quando chega o momento porque muitos esperavam (senão todos) - os coros de entrada da magistral obra-prima The Poet and the Pendulum, ex-líbris de Dark Passion Play, fazem-se ouvir na escuridão. O tema de 13 minutos é tocado na íntegra, reflectindo a força simbólica e mestria dos Nightwish de hoje. Tuomas Holopainen é maestro e encenador e a peça desenrola-se perante os nossos olhos. Somos levados ao rubro nos refrões e aos abismos angustiantes e negros da história, com a voz de Anette a levar-nos da emoção ao delírio, do delírio à dor, da dor à acalmia, sussurrando e murmurando, envolvendo-nos com doçura, conduzindo-nos ao céu para nos fazer despenhar em seguida. É com emoção na voz e nos olhos claros que a vocalista interpreta a quarta e última parte desta composição – Mother & Father. Muito perto do público, olha cada um nos olhos e faz render uma plateia já extasiada pela poderosa música dos Nightwish.

O refrão de entrada de Dead To The World faz-se ouvir logo em seguida, sem nos dar tempo sequer para respirar. O diálogo entre Marco e Anette desencadeia-se na perfeição do encontro destas duas vozes e a música leva a plateia à completa loucura. Momento alto na exibição incrível dos músicos Jukka na bateria e Emppu nos solos de guitarra, que voltam neste tema a dar provas da sua qualidade já mais que comprovada.

Seguiu-se o tema While Your Lips Are Still Red, luzes apontadas ao teclista e ouvidos deleitados na voz tão característica de Marco Hietala fazendo uso do seu tom mais melódico e doce, atingindo notas incrivelmente altas, uma voz que lhe faz valer claramente o estatuto assumido de segundo vocalista da banda. Resultado: um momento emocionalmente único.




As luzes em palco passam a um tom alaranjado e os acordes de Sahara fazem-se ouvir preparando-nos para um dos temas mais bombásticos do novo álbum. Momento a solo do guitarrista Emppu e loucura dos restantes membros da banda. A meio surge em palco uma figura vestida de Bin Laden (suspeita-se, Peter, vocalista dos Pain) distribuindo fruta e garrafas de água pelo público que aceitou mais do que alegremente a preciosa dádiva, já que o calor na plateia se começava a assemelhar a um autêntico deserto. Grande exibição da parte de todos os membros, com destaque para Anette que deu largas a todo o seu poder vocal neste tema, interagindo intensamente com o público. No final do tema, novo momento divertido com os membros dos Pain a surgirem em palco, com toalhas pousadas nos braços à garçon e copinhos que serviram aos membros dos Nightwish.

Anuncia-se a suposta última música da noite. Nemo. Tarefa de enorme esforço vocal para Anette que contorna as notas mais elevadas com a sua própria tonalidade vocal. As ligeiras desafinações neste tema são suplantadas pelo poder da música que leva ao rubro a plateia.


Chega finalmente o ansiado encore que se faz de três músicas absolutamente bombásticas. A abrir com 7 Days to The Wolves, tema forte do novo álbum. Público já mais que rendido grita o refrão nas vozes de Anette e Marco. Em palco múltiplas interacções entre o baixista e guitarrista, ambos brilhantes durante toda a actuação.


A inevitável Wishmaster faz-se ouvir então, primeiro subtilmente com acordes de piano e depois explodindo no conhecidíssimo refrão, provocando arrepios pela espinha acima. A multidão é levada à loucura por este clássico dos Nightwish.


Por fim, a última música, outro clássico absolutamente incontornável e a multidão é levada para além da loucura. Wish I Had an Angel surge sem se fazer anunciar e os membros dos Pain voltam a aparecer em palco, com o vocalista a tomar lugar na bateria de Jukka e as guitarras a duplicarem-se. Momento inesquecível… mais palavras para quê?



Está mais que provado que os Nightwish têm um lugar muito próprio e demarcado na cena do metal, um lugar onde tocam música por paixão e onde se afirmaram já há muito tempo. Anette Olzon acabou de chegar a esse lugar e foi recebida nele, tendo agora de batalhar para nele encontrar também o seu cantinho. Se a escolha do vestuário que usou em palco levou muitos a torcer o nariz, não penso que o mesmo se possa dizer da energia que demonstrou. Anette soube conquistar o público com intensa simpatia e à vontade, interagindo com os membros da banda e cantando com emoção e presença. Princípios do caminho de uma nova Senhora do Metal.




SETLIST:
1- Intro + Bye Bye Beautiful
2- Dark Chest Of Wonders
3- Who ever brings the night
4- The Siren
5- Amaranth
6- The Islander
7- The Poet And The Pendulum
8- Dead to the world
9- While Your Lips Are Still Red
10- Sahara
11- Nemo
ENCORE
12- 7 days to wolves
13- Wishmaster
14- Wish I Had An Angel





Fotografia - créditos e agradecimentos a: A. Martins e S. Almeida.

Inês Martins - Lua Minguante

4 comentários:

Anónimo disse...

Ena pah, sou o primeiro a comentar =D lol.
Bem, no geral o review está muito bom, ao contrário de certos e determinados reviews que eu li que dão a entender que o autor não esteve neste concerto (indirecta para o senhor da "Loud!"), no entanto vejo-me obrigado a comentar certas partes:
A primeira diz respeito aos casacos escuros; Será uma indirecta para o meu belo casaquinho?! Fica no ar a questão =P LOOL;
A segunda diz respeito à Dark Chest of Wonders. Não creio que vocalização original da Tarja nesta música seja das mais líricas, penso que esta música pede mais uma forma de cantar como a da Anette e, além disso, para mim, as vocalizações mais "operáticas" dos Nightwish são as do album "Oceanborn". Também não acho que a Dark Chest of Wonders tenha perdido consistência (ou "peso") ou força... Creio que nesse aspecto a Anette é mais versátil do que a Tarja, uma vez que consegue registos melódicos muito bons e, quando a música o exige, imprimir uma garra muito maior que a ex-vocalista do colectivo de Kitee;
Outro comentário diz respeito à alcunha "mestre-de-cerimónias" aqui aplicada ao Tuomas. Mestre-de-cerimónias é um termo utilizado no hip-hop, que tem como abreviatura "MC"... Chamar MC ao coitado do Tuomas, não me parece correcto lool =P.

Seja como for, é um bom review, conseguiu demonstrar muito bem o que se passou em palco e as sensações dos milhares de fãs que se deslocaram ao Coliseu dos Recreios para ver actuar as duas bandas. Quer os Nightwish quer os Pain deram um concerto memorável, que ficará na memória de todos nós como um dos mais fabulosos espectáculos alguma vez assistidos. Para mim, só houve um concerto em toda a minha vida que se iguala a este: Metallica no Super Bock Super Rock, e, acredite quem quer, para eu dizer isto, é porque o sinto realmente (sim que eu estou sempre a dizer mal de tudo lol).
By the way, obrigado por terem usado as minhas fotografias, pena não terem usado a do Jukka a dar-lhe forte e feio na bateria, mas também não podiam encher isto com fotografias, fica muito bem como está ;)
Muitos parabéns pelo trabalho desenvolvido até agora, espero sinceramente que continuem assim e cheguem longe com este projecto \m/

Joana disse...

Gostei muito deste review, parece-me bastante bem estruturado e com uma opinião de quem sabe do que está a falar. =)

Tenho que concordar ali com o Sérgio em relação à Dark Chest of Wonders, não a tenho como uma das músicas de registo mais operático dos Nightwish, para mim essas estão reservadas a Oceanborn e também Wishmaster. E considero que a Anette faz um excelente trabalho vocal com esta música e não lhe tira força: se não aumenta, consegue manter todo o poder que a música tem.

Outra coisa é a roupa da Anette. Não sei porque é que a escolha terá levado alguns a torcer o nariz, acho que ela encontrou um estilo próprio e que veste exactamente aquilo que gosta e com o qual se sente bem em palco, não destoando com o resto da banda e com a atmosfera do concerto, a meu ver. A Anette provou ser uma vocalista e performer com aspectos únicos, confiante e consciente dos seus limites e trouxe-nos um grande espectáculo junto com o resto da banda, que foram absolutamente fabulosos!

De resto apenas tenho a dizer que está um review muito bom, espero ver mais coisas neste blog, que me parece muito interessante. Tenho pena de não ter tido tempo para ler o resto ainda, mas assim que tiver, não se livram de mim! =)

Anónimo disse...

bem vou-me singir a poucas palavras.....para não fazer um grande testamento! lol lol
Quanto á espera...tudo faz parte....fã que é fã espera 10anos ( como eu esperei) portanto não é por + umas 10horitas que a coisa muda..lol lol

A review do concerto tá fantastica......fizes-t com que ficasse novamente em pulgas como se o concerto tivesse sido ontém! lol

A Setlist foi optima ( faltou 2ou3 temas que eu queria ouvir..mas não faltaram opurtunidades), e quanto á Anette....a moça é um espetáculo, é a salvadora da banda, se não fosse ela já não havia Nightwish....sou todo a favor dela na banda..não deitando a Tarja mt abaixo mas vendo bem as cosias a Tarja foi grande cabra para toda a banda portanto teve o que merece!

e prontus é basicamente isto, estou ansioso para os ver novamente!
E fico coiso em dizer isto pk já me expressei a ti(inês) o quanto curtia que tivesses tado onde eu tava e sei como querias que Tuomas olhasse pra ti...mas tnaho que dizer isto pois é algo que não cabe em mim:

- o Tuomas olhou pra mim, fez sinais, sorriu, e no final foi ao pé de mim agradecer o apoio ( não é que eu seja gay, mas este hóm pra mim é tudo, é uma inspiração, é o maior)

- O Marco falou comigo, outra inspiração para mim, e te-lo ali a falar para, as poucas palavras que disse ainda hoje se fazem ouvir dentro da minha cabeça

Foi realmente um sonho para mim ve-los ao vivo , e ter 2 idolos meus a olahr para mim, a fazer sinais, e a falar cmg, 10anos esperei eu por aquele dia, foi um sonho!

bjits e abraços
e força para o blog e para as 4 Senhoras do Metal que "mandam noisto", estão realmente a fazer um optimo trabalho! \m/

Anónimo disse...

Adorei o concerto e parabéns pelo review!

não tive oportunidade de ver a banda com a Tarja, mas vi agora com a Anette!
Que esteve muito bem por sinal =D

Grande performance da banda!
Adorei a Dead To the World e todas as outras

Agora que cá voltem para tocarem "as que faltam" =P