sexta-feira, 28 de novembro de 2008

REVIEW - Kivimetsän Druidi - Shadowheart [2008]

Trackilist
1. Northwind – Prelude
2. Blacksmith
3. Jäässä Varttunut
4. Halls of Shadowheart
5. Pedon Loitsu
6. Burden
7. The Tyrant
8. Tiarnäch - Verinummi
9. Verivala
10. Korpin Laulu
11. Mustan Valtikan Aika


O seu nome é bastante impronunciável para os europeus do sul do continente: Kivimetsän Druidi, o que em finlandês quer dizer exactamente “Druida da Floresta de Pedra”. Já estão a ver onde isto vai dar, não já? Não estão nada. Ora passo a explicar.

O projecto KmD (permitam-me a simplificação) começou por ser uma ideia dos irmãos Koskinen, Joni Koskinen, guitarrista e Antti Koskinen, teclista. A inspiração para tal nome veio do primeiro, que se encontra a escrever um livro que conta a história da “Terra da Montanha de Cristal e da Floresta de Pedra”. A passagem do livro para a música fez-se de numerosas demos (datando a primeira de 2003) e EPs, que culminaram com um contrato discográfico com a gigante Century Media e o lançamento, em Outubro passado, do álbum de estreia Shadowheart.

Biografia à parte, um facto é que este sexteto finlandês esteve de passagem pelo nosso país como banda de suporte dos seus conterrâneos Battlelore, trazendo na bagagem este Shadowheart. A redacção das Senhoras do Metal, com sede e fundações assentes na capital lisboeta, não conseguiu estar presente no concerto que teve lugar no Cinema Batalha (Porto), no passado dia 23 de Novembro. Ainda assim, é importante não deixar passar a data sem uma referência: aplausos para a promotora Big Dog que conseguiu trazer, de uma só vez, tantas bandas de folk metal ao nosso cantinho da Europa – a juntar aos já referidos colectivos finlandeses, os compatriotas Korpiklaani e Falchion. Uma data que terá sido imperdível para os fãs do estilo.

De volta ao tema desta review, é um facto que os KmD são novos nestas andanças e integram um estilo um tanto sufocado com centenas de propostas com a mesma receita. O seu folk/fantasy/symphonic (escolha à vontade do ouvinte) death metal não é uma coisa propriamente original, mas esta banda é relativamente boa no que faz. Shadowheart é um bom álbum de estreia, soando cru e directo, a bateria seca e rápida, as guitarras melódicas enchendo de cor. Os vocais são divididos entre o guitarrista Joni Koskinen (guturais) e o lirismo da voz de Lenni-Maria Hovila (terceira vocalista da banda no período 2004-2008). Liricamente o álbum não foge às temáticas típicas deste subgénero (como já referi, com inspiração no livro da autoria de Joni), sendo que a maioria das temas são cantados na língua materna do colectivo.

Shadowheart começa com o habitual prelúdio musical. Northwind é uma introdução com um tom ligeiramente cinematográfico, no fundo, uma intro como outra qualquer. O que vem a seguir é bem mais interessante, embora não seja propriamente único ou marcante. Destaco Blacksmith, a lembrar provavelmente os antepassados nórdicos destes músicos, com coros masculinos invulgares e interessantes. Além disso, este tema oferece velocidade e fúria viking, que provavelmente terá originado headbanging igualmente furioso no Cinema Batalha. Ritmo cadenciado entre a festa folk e a batalha bárbara, grande parte das vocalizações entregues a Joni Koskinen e aos seus berros death metal razoáveis. Pequenos apontamentos da excelente voz de Leeni-Maria que tem um bom alcance lírico, embora lhe falte versatilidade. No entanto, o seu sotaque cerrado a cantar em inglês soa agradavelmente característico, transportando-nos para os países do norte da Europa.

A viagem entre festa e batalha continua pelos temas seguintes. Jääessä Varttunut dá mais destaque à voz feminina, com as guitarras a tecerem bonitas melodias, sintetizadores dando um colorido folk, enquanto que Halls of Shadowheart tem um tom mais ameaçador e sóbrio, um tom adoptado também ao nível das vocalizações melódicas sob as quais se faz ouvir uma bateria furiosa.

Um dos momentos altos está em Pedon Loitsu, na qual o ritmo de bateria é dominante e os sintetizadores estabelecem uma paisagem rica e profusa em imaginação. Momento alto também para a voz de Lenni-Maria, que tem neste tema a sua melhor prestação, dando a entrever a possibilidade de a sua voz atingir um patamar superior, quem sabe, num próximo registo. Burden é outro grande tema. A melodia cantada por Lenni-Maria capta a atenção do ouvinte, bem longe de ser catchy e ainda assim conseguindo cativar.

The Tyrant é possivelmente a melhor faixa. A melodia é quase viciante, a bateria praticamente raivosa e as vocalizações parecem aqui verdadeiramente sentidas pelos dois vocalistas. O equilíbrio entre peso e melodia é muito bem conseguido, com um momento mais lento (coisa raríssima em Shadowheart) e bem elaborado. Destaque absoluto para o trabalho de Antti Koskinen nas teclas, demonstrando sensibilidade e angústia num momento, para se lançar em melodias mais aceleradas em seguida. Destaque ainda para Korpin Laulu, apenas pela impressionante velocidade das guitarras e bateria em perfeita concatenação furiosa e articulada com momentos mais sincopados.

Para terminar, o tema mais longo com 7 minutos, Mustan Valtikan Aika, que é, por sinal, o mais bem conseguido, contendo toda a originalidade que falta em alguns dos outros (facto que nos pode permitir dizer que não estamos perante mais uma banda de folk/fantasy/symphonic death metal, de receita pronta a consumir e deitar fora). Para começar, Lenni-Maria faz uso de um tom completamente diferente do usado no resto do álbum – mais directo, como quem conta uma história. A fúria cuspida por Joni Koskinen combina gloriosamente com este registo, o que me faz pensar que talvez Lenni-Maria venha a descobrir que não precisa de cantar oitavas impossíveis para ser considerada uma boa cantora. A nível instrumental esta é uma faixa incrível, ainda para mais tratando-se de um álbum de estreia. Este tema passa por diversos momentos, todos eles muito bons – abre com guitarras que dão lugar aos sintetizadores em tons de acordeão melancólico e depois lança-se a festa folk, sempre com os sintetizadores no comando. As guitarras têm um momento só para si lá mais à frente, inclusive trazendo-nos um bonito apontamento acústico e, no final, temos até direito a um incrível (!) solo de guitarra. A pergunta será, porque é que temos que chegar ao fim para ouvir uma peça tão brilhante.

Destaques: Mustan Valtikan Aika, The Tyrant, Blacksmith, Burden, Pedon Loitsu

15,5 Valores em 20

Inês Martins, Lua Minguante

Line-up: Leeni-Maria Hovila (voz), Antti Koskinen (teclado), Antti Rinkinen (guitarra), Atte Marttinen (bateria), Joni Koskinen (voz e guitarra), Simo Lehtonen (baixo)

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