1.Thick ’n’ Blurry
2. L.
3. Hereafter Path
4. (Un)bearable Certainty
5. Pleasure Pursuit
6. The Shift
7. Last of the Few
8. Pale Blue Perishes
9. Pervasive Healing
10. Nothing as it Seems
O Metal é, talvez, o estilo musical que mais subgéneros tem sob a sua alçada. Por o espectro ser tão alargado, há a necessidade de segmentar, de criar compartimentos mais ou menos estanques, mais ou menos artificiais. E embora estas divisões sejam sempre redutoras, elas existem para nossa comodidade; são guias que nos orientam num caos de sonoridades tão díspares que, por vezes, nem parecem pertencer ao mesmo género musical.
No entanto, algumas bandas destacam-se por não se encaixarem em nenhum destes compartimentos. À falta de melhor classificação, a imprensa e os senhores das editoras criaram o rótulo metal avant-garde, que procura reunir aquelas bandas cuja criatividade, originalidade e irreverência desafiam todas as tentativas de classificação.
No que respeita a colectivos com participação feminina, os últimos anos têm sido prolíficos. Ram-Zet, Stolen Babies, UnExpect, Diablo Swing Orchestra, Aesma Daeva ou os muito aclamados To-Mera, são apenas alguns nomes que ajudaram a catapultar o metal avant-garde para a ribalta da cena metálica. Mas apesar de até terem uma etiqueta, estas bandas pouco ou nada têm em comum. Estruturas bizarras, fusão, instrumentos invulgares, vocalizações estranhas – tudo o que desafie os cânones e deixe o ouvinte fascinado, perturbado ou, então, completamente à nora, é perfeitamente aceitável.
Em Portugal, os ThanatoSchizO (TSO) são os principais representantes desta tendência. Ao longo dos seus dez anos de existência, têm tido uma carreira sólida, alicerçada em trabalhos discográficos de inegável qualidade. Em 2004, Turbulence marcou uma importante viragem na sonoridade dos TSO, tendo sido um dos melhores lançamentos a nível nacional. Quatro anos depois, o colectivo transmontano alcança a mesma proeza com o seu quarto longa-duração, Zoom Code.
Não são necessárias muitas audições para perceber que Zoom Code representa um importante salto qualitativo na sonoridade da banda. Todos aqueles elementos que se tornaram parte integrante da identidade musical dos TSO estão presentes: o trabalho fabuloso das guitarras, as variações de ritmo, os apontamentos étnicos, a diversidade de registos vocais. Contudo, em relação a Turbulence, todos estes aspectos foram elevados até à mais alta potência, resultando num trabalho de grande qualidade.
Este salto qualitativo também se fez sentir na produção, que é muito mais poderosa do que a dos álbuns anteriores. Contudo, embora os instrumentos estejam perfeitamente audíveis, as vozes são, em muitos momentos, obliteradas pelo som maciço das guitarras – o que é uma pena, visto que a prestação dos vocalistas é praticamente irrepreensível. Patrícia Rodrigues está no seu melhor e, não obstante o seu timbre não ser muito característico, a sua garra é uma importante mais-valia para a sonoridade da banda. O tom limpo de Eduardo amadureceu e está em perfeita sintonia com a bela voz de Patrícia. Já os guturais, embora relativamente esparsos, surgem em momentos estratégicos para imprimirem energia e brutalidade. Aliás, a presença de grunts é o vestígio mais evidente das influências death metal que, aos poucos, os TSO têm vindo a abandonar, para as substituírem por um som mais experimental e progressivo.
Zoom Code é um álbum sofisticado, em que o caos se encontra apenas à superfície. Os TSO sabiam muito bem onde queriam chegar e concluíram a sua viagem com sucesso. Nada é deixado ao acaso e à medida que nos vamos embrenhando no labirinto de som, o código vai-se tornando cada vez menos críptico. No entanto, não revela os seus mistérios de ânimo leve e, para ser plenamente apreendido, exige muitas e cuidadosas audições. A persistência compensa, porque há sempre um novo pormenor delicioso para descobrir.
Uma das grandes dificuldades de algumas bandas avant-garde é manter a atenção do ouvinte. As estruturas bizarras, a ausência de riffs e linhas vocais catchy criam barreiras entre a música e o ouvinte. No caso dos TSO, isto não sucede. Apesar da imprevisibilidade que permeia todas as faixas e das constantes mudanças de ritmo, a comunicação com o ouvinte não é descurada. No meio do caos podemos ancorar-nos a um riff, a uma linha vocal ou a um refrão marcante.
É difícil destacar faixas, uma vez que não existem maus momentos em Zoom Code, e todas as músicas têm uma identidade muito própria. A faixa de abertura, Thick ‘n’ Blurry remete-nos um pouco para uns Lacuna Coil, enquanto que a fantástica e atmosférica (Un)bearable Certainty faz lembrar uns The Gathering, sobretudo devido à prestação vocal de Patrícia que, em certos momentos, se parece com Anneke Van Giersbergen. Outra faixa incontornável é L., onde se destaca um belíssimo solo de violino, cortesia de Tim Harris dos Estradasphere. Já em Hereafter Path somos enredados em riffs de guitarra poderosos e melódicos e contagiados pela loucura da concertina de António Pereira.
The Shift, um interlúdio com pouco mais de um minuto, faz a passagem para um registo mais pesado e negro. Os TSO usam e abusam dos ruídos electrónicos, que conferem uma ambiência fria e opressiva, e até um pouco psicadélica, que contrasta com as faixas mais positivas e orgânicas que abrem o álbum. Destaque para Pale Blue Perishes, uma das malhas instrumentalmente mais complexas, onde os vocalistas cantam com uma garra e um desespero viscerais. Arrepiante. Outra favorita é Pervasive Healing, com as suas constantes mudanças de ritmo e momentos atmosféricos. Awareness, uma faixa com influências jazz, fecha o álbum, contando, mais uma vez, com a participação de António Pereira, desta vez no saxofone.
Com Zoom Code, os TSO afirmam-se como uma das grandes bandas do panorama do metal português, estando ao nível do que melhor se faz a nível internacional. Por agora, esta talentosa banda tem percorrido o país em diversos concertos. No entanto, e com a promoção certa, acredito que, muito em breve, a sua esquizofrenia invada palcos europeus. Esperemos que assim seja.
Destaques: L., Hereafter Path, (Un)bearable Certainty, Pale Blue Perishes, Pervasive Healing
17,7 em 20
Cláudia Rocha (Lua Crescente)
Sérgio Almeida (Cronos)
Line-up: Patrícia Rodrigues (voz), Eduardo Paulo (voz, guitarras e percussão), Filipe Miguel (teclados e sampling), Guilhermino Martins (guitarras, voz e sampling), Miguel Ângelo (baixo) Paulo Adelino (bateria e percussão)
3 comentários:
Bela review, que grande sorte temos de haver alguém que sabe escrever e corrigir as porcarias dos outros lol...
Só há um problema; Essas notas... 17,7 é pouco xD (na minha singela opinião)
Olá. Este blog foi premiado com o prémio Dardos.
http://journaleiro.blogspot.com/
Interessante a forma como oassunto foi abordado. Até desperotu minha curiosidade com relação às bandas mencionadas, a despeito do fato de que eu sou absolutamente tradicionalista com relação ao Metal.
Parabéns
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