domingo, 1 de março de 2009

REVIEW - Silentium - Seducia [2006]


Tracklist:
1. Hangman's Lullaby
2. Serpentized
3. Dead Silent
4. Unbroken
5.Frostnight
6. Children of Chaos
7. Empress of Dark
8. Seducia



Os Silentium ainda são uma banda relativamente desconhecida no universo das bandas com vocalista feminina. No entanto, se actualmente tocam aquilo que se convencionou como gothic metal, no início da sua carreira, a sonoridade deste colectivo finlandês tinha uma toada bem mais doom, com predominância da voz masculina, enquanto a voz feminina ficava relegada para um plano mais secundário.

O grande salto qualitativo deu-se em 2003, com o discreto lançamento de Sufferion - Hamartia of Prudence que, injustamente, passou ao lado de muitos reviewers e apreciadores dos género em causa. Mais do que música bem executada por músicos competentes, Sufferion - Hamartia of Prudence é um trabalho único, meio rock ópera, meio teatro, meio radionovela que, inclusivé, contou com a performance de actores profissionais.

No entanto, foi neste Seducia que o colectivo finlandês – pais que habituou os fãs do rock e do metal a grandes bandas – encontraram o seu estilo próprio. Seducia é também o álbum de estreia de Riina Rinkinen, a actual vocalista dos Silentium, senhora de uma voz grave, sensual e expressiva, algo raro no denominado female fronted metal, que desde a sua génese tem apostado em vozes agudas e límpidas.

Ao lado de Riina, Matti Aikiu cria um contraste vocal mais ou menos bem conseguido. A voz de Matti é peculiar, e situa-se algures entre os grunts e as vocalizações mais agressivas de Marco Hietala (Nightwish), mas sem atingir o patamar de excelência do vocalista/baixista da famosa banda finlandesa.

Apesar do jogo vocal entre voz masculina e feminina, da utilização de um violoncelo e das ambiências melancólicas e, por vezes, obscuras, que embebem a sonoridade, Seducia não é o típico álbum de gothic metal. Sem desbravarem terrenos virgens, os Silentium conseguem imprimir alguma originalidade à sua música, e uma personalidade vincada. Ouvir Seducia é como beber um café negro e amargo, mas com notas aveludadas e repletas de sensualidade. A teatralidade que domina algumas das faixas torna-as perfeitamente aptas para fazerem parte de uma ópera rock, contudo, o colectivo nunca se deixa cair em exageros nem no refrão orelhudo fácil. A maoria dos temas têm uma cadência mid-tempo, com a inclusão de alguns momentos mais rápidos e agressivos.

Nas melancólicas Hangman’s Lullaby, Dead Silent e Frostnight, Riina tem a oportunidade de brilhar como primeira voz, apenas acompanhada por alguns apontamentos vocais de Matti. Estas faixas são dominadas por refrães fortes na voz de Riina, teclados precisos e negros e maravilhosos apontamentos de violoncelo. Embora os instrumentistas não tenham muitas oportunidades de brilhar individualmente, os ouvidos mais atentos poderão escutar alguns riffs interessantes sob a muralha de som. No entanto, o mais importantes nestas faixas é a melodia e as linhas vocais que, embora não soem dissonantes, não são as mais habituais neste género.

O lado mais agressivo dos Silentium está presente em Serpentized, Children of Chaos e Empress of Dark. Serpentized é quase totalmente cantada por Matti, que tem aqui a sua oportunidade de brilhar. Infelizmente, a sua voz não funciona sem o apoio de Rinna e, embora a faixa tenha uma estrutura interessante, acaba por sair prejudicada pela prestação de Matti.

Children of Chaos é um grande malha, a mais original alguma vez criada pelo colectivo. Recheada de notas dissonantes, mudanças abruptas de ritmo, é uma das mais teatrais de Seducia, com Matti e Riina num dueto insidioso e sedutor. A secção rítmica desempenha um papel importante nas mudanças de ritmo, enquanto os restantes elementos se degladiam numa luta pela supremacia. Desta vez, o desafio dos ouvidos atentos é encontrar harmonia na dissonância.

Empress of Dark é uma das mais rápidas e agressivas, com excelentes vocalizações de Matti, que contrastam com o tom malicioso de Riina. O destaque vai para o violoncelo que, em certos momentos, se sobrepõe a todos os outros instrumentos, e noutros se entrelaça com a voz da vocalista.

Unbroken poderia ser a típica balada, estrategicamente colocada a meio da tracklist. No entanto, a interpretação de Riina torna esta uma das mais poderosas faixas do álbum. E se existiam dúvidas de que Riina é uma das melhores intérpretes do género, parece que esta prestação é a prova de que a vocalista desta banda ainda obscura deveria ocupar o seu merecido lugar no ranking das melhores vocalistas femininas. Sem grandes exercícios vocais, sem “lamechices” desnecessárias – e talvez por isso mesmo – Riina consegue partir o coração do metaleiro mais empedernido. Se não acreditam em mim, desafio-vos a experimentar.

E, finalmente, o tema título, Seducia, que também poderia ser a típica faixa longa que fecha o álbum, algo que se tornou já um cliché de muitas bandas de gothic metal e metal sinfónico. No entanto, e tal como Unbroken, a interpretação fabulosa dos vocalistas, que encetam um diálogo quase perverso na sua crueldade, a presença insidiosa do violoncelo, a secção rítmica poderosa, a diversidade de momentos, desde rápidos a agressivos, a lentos e sensuais – de notar que tudo isto é feio sem a presença de uma grande orquestra – elevam este tema acima de muitas outras experiências do mesmo género, algumas até de bandas mais aplaudidas.

Seducia é um álbum musicalmente coeso, negro, que pode realmente apanhar-nos se for escutado com atenção e no momento certo. Com este trabalho, os Silentium insinuam-se já como uma das melhores e mais originais propostas num género que, muitos, afirmam estar já gasto e exaurido. Seducia é esse café forte, cujas tonalidades devem ser descobertas lentamente, mas que contém a promessa de um efeito duradouro.


Destaques: Hangman’s Lullaby, Unbroken, Children of Chaos, Empress of Dark, Seducia



18 valores em 20



Cláudia Rocha (Lua Crescente)


Line-up: Riina Rinkinen (voz), Matti Aikio (baixo e voz), Jari Ojala (bateria), Juha Lehtioksa (guitarra), Sami Boman (teclados), Toni Lahtinen (guitarra)

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