terça-feira, 6 de janeiro de 2009

REVIEW - Within Temptation - The Heart of Everything [2007]

Tracklist:
1. The Howling
2. What Have You Done feat. Keith Caputo
3. Frozen
4. Our Solemn Hour
5. The Heart Of Everything
6. Hand Of Sorrow
7. The Cross
8. Final Destination
9. All I Need
10. The Truth Beneath The Rose
11. Forgiven
12. What Have You Done (Rock Mix)


A saída do single What Have You Done causou, em 2007, o pânico entre ouvintes de metal puristas e não puristas, e entre os fãs do colectivo holandês. Longe, muito longe, do que foi Mother Earth, e ainda um pouco longe de um The Silent Force, o single escolhido - um hit rock cantado por Sharon den Adel e Keith Caputo dos Life of Agony - apresentava a banda com uma nova sonoridade, e isto não seria necessariamente bom. Felizmente que este excelente tema rock radio-friendly (que teve o mérito de levar os Within Temptation aos EUA) não tinha quase nada a ver com o resto do álbum, falhando em representá-lo como primeiro single. O quarto álbum de estúdio do colectivo holandês não se limita a ser mais um capítulo de uma já considerável carreira, mas um passo em frente ou, se quiserem, um capítulo de destaque com alguns toques de brilhantismo.

The Heart of Everything (THOE) é o álbum em que as guitarras ganham mais destaque, estando ainda longe da notoriedade que, na minha opinião, mereciam. Guitarras eléctricas e acústicas, explorando malhas rock e metal, tornam-se neste álbum mais presentes do que em qualquer outro da carreira da banda. O que continua a estar majestosamente omnipresente é a melodia excepcional dos teclados a cargo da mente e mãos criativas de Martjin Spierenburg, autor, em conjunto com Robert Westerholt e Sharon den Adel, da maioria dos temas. Produzido por Daniel Gibson, THOE traz-nos um conjunto de excelentes melodias nas quais os teclados brilham e as guitarras se impõem um pouco mais, contribuindo para tornar este um dos registos mais obscuros da carreira dos WT. Acompanhando a tendência dos últimos tempos (ou, quem sabe, liderando-a), Sharon den Adel entrega-se a vocalizações rock, as mais graves de toda a sua carreira, levando a sua voz por caminhos nunca antes explorando, utilizando com mestria ambas as tonalidades, rock e lírica, do seu timbre e fazendo uso de técnicas vocais distintas de registos anteriores. THOE é, sem qualquer dúvida, o registo da excelência da técnica vocal de Sharon den Adel.

O álbum abre com a bombástica The Howling, que começa suave para se tornar numa malha de velocidade e peso. Orquestrações e guitarras unem-se para nos dar espectáculo e a eles junta-se uma Sharon que canta em tom praticamente irreconhecível. Por entre sussurros, a sua voz surge grave e rouca, arranhando tons obscuros, nunca antes utilizados na sonoridade da banda. Refrão absolutamente viciante e vicioso, com as guitarras sempre omnipresentes, oferecendo-nos paisagens sonoras gratificantes.

What Have You Done é o tema controverso do álbum, precisamente por apelar a um lado mais comercial. A escolha para single era inevitável e falhou (como na grande maioria dos singles escolhidos pelas editoras) em representar a sonoridade deste registo. Alguns fãs mais puristas podem até considerar que, com esta faixa, os WT traem a sua própria sonoridade, mas eu tenho pouco de purista. Trata-se de um dueto muito bem conseguido entre Sharon e Keith Caputo e que não deixa em nenhum ponto de evidenciar as marcas da sonoridade dos WT. Tema orientado pelas guitarras, com um refrão claramente orelhudo e que resulta da bonita combinação entre ambas as vozes, que se harmonizam num diálogo de contrastes. E apesar de todos os comercialismos que esses fãs puristas aqui encontram (e que estão lá), também estão presentes todas as características que fazem deste tema um tema WT – melodias em profusão, sintetizadores, vocalizações fortes e guitarras adicionando peso.

Frozen tem tudo para ser uma balada rock. Desde a sua entrada discreta e depois imponente, passando pelas vocalizações dramáticas e emocionais de Sharon den Adel, que se exprime sobre uma guitarra acústica ainda mais dramática, até ao refrão cantado como um grito de desespero numa melodia inevitavelmente catchy, tudo concorre para um excelente tema de gothic rock/metal. O ouvido mais experimentado em múltiplas audições pode surpreender-se ao descobrir a voz do guitarrista Ruud Jolie em backing vocals.

Our Solemn Hour é só um dos melhores temas de sempre da banda. Não é fácil decidir por onde começar numa faixa que tem tudo do bom e do melhor – desde refrão orelhudo, a coros gregorianos, passando por guitarras e melodias viciantes. Esta faixa é um somatório de tudo o que de melhor os WT sabem fazer. Inicialmente, a voz de Sharon canta quase num sussurro – "Sanctus Espiritus" – e ouvimos o discurso de Winston Churchill, transportando-nos para o cenário da Segunda Guerra Mundial. Um coro de vozes explode e com ele a música. A voz de Sharon desce ao mais profundo desespero, os sintetizadores servindo-lhe de tapete até as guitarras nos atingirem como se nos encontrássemos no meio do campo de batalha. O refrão é das coisas mais catchy alguma vez compostas por uma banda de metal sinfónico. Fugir-lhe é impossível. Lá mais para frente temos direito a solo de guitarra [e que solo!], cortesia de Ruud Jolie.

The Heart of Everything é o tema título deste álbum e possivelmente uma das músicas mais negras da discografia dos WT. Introdução épica e dramática com a voz de Sharon a erguer-se numa melodia e depois guitarras ao poder e estamos perante a composição onde elas têm um destaque fundamental. A voz de Sharon percorre novos trilhos, mais grave do que nunca, rodeada pelas malhas sucessivas das guitarras, concorrendo para a criação de uma atmosfera obscura. O melhor desta música não é, infelizmente, o refrão – passa-se bem por ele quase sem o notar. O que esta música tem de melhor é mesmo todas as restantes partes, a forma como a voz de Sharon se encaixa com habilidade nas malhas tecidas pelas guitarras, destilando uma letra acusatória, a lembrar um purgatório de destino para a alma humana. A finalizar, Sharon rende-se finalmente a uma interpretação mais lírica, erguendo-se etérea e angélica com as imparáveis guitarras por baixo. Uma das melhores prestações vocais de sempre.

Hand of Sorrow é mais um incrível tema épico com selo WT. Tem tudo aquilo em que este colectivo se especializou ao longo destes anos – melodia encantatória de piano na abertura, bateria e guitarras a explodirem em seguida, e os teclados de Martjin Spirenburg a levarem-nos numa dança até Sharon começar a cantar/contar mais uma história. A música é, sem dúvida mais alegre, do que a história que é contada: uma história de lutas e perdas inspirada na figura de William Wallace. Mas os WT são únicos na sua forma de contar histórias e nestes quase 6 minutos oferecem-nos um dos melhores refrães da sua carreira. De destacar o momento mágico recorrente em que a música serena e Sharon é deixada quase sozinha para uma interpretação vocal carregada de emoção.

The Cross é uma preferência pessoal e, para mim uma, das interpretações emocionais – vocais e instrumentais – mais belas por parte dos WT. Sharon den Adel garante ter demorado um ano para a compor música e letra, mas valeu a pena o tempo demorado. A voz de Sharon carrega, como sempre, toda a emoção consigo, que também não falta às guitarras incrivelmente dramáticas, que convergem num refrão absolutamente inesquecível. Aliás, para mim, as guitarras são mesmo o que este tema tem de melhor: insidiosas e penetrantes. Por mais vezes que ouça esta The Cross nunca deixo de descobrir nela elementos novos – ou é o piano num momento inesperado, ou os violinos em lamentos emotivos e sempre aquela voz, negra e profunda, angélica e desesperada. Sem dúvida uma das melhores intérpretes de metal da actualidade.

Final Destination, inspirada no filme com o mesmo nome, é uma faixa musicalmente inferior às restantes. Não quero com isto dizer que é uma faixa má, mas simplesmente que não é tão boa, nem tão emocionalmente verdadeira como as outras. Na verdade, talvez a sua localização no álbum também não seja a melhor, uma vez que quase desaparece entre a majestosa The Cross e a balada dramática All I Need. Ainda assim, somos brindados por uma excelente combinação entre as melodias dos sintetizadores e as guitarras.

All I Need poderia ser a música mais cliché de sempre a ter o selo WT, ou não estivesse tão bem feita. A qualidade desta típica balada é reforçada pelo facto de os WT terem sido sempre tão pouco ortodoxos na composição das suas baladas, quase todas elas atípicas e fugindo a estruturas ditas comuns. All I Need não foge a nenhum lugar-comum – desde a estrutura à letra – e, ainda assim, soa incrivelmente bem. Trata-se de uma composição em que a guitarra acústica tem destaque, seguida de uma bateria apropriadamente lenta, sobre a qual a voz de Sharon soa melancólica e frágil. Numa balada com tudo para ser cliché, os WT demonstram que dominam como ninguém os segredos da melodia, introduzindo no momento certo a guitarra eléctrica, conduzindo a música a um clímax apropriado e deixando depois a voz de Sharon dar o seu espectáculo.

The Truth Beneath The Rose é um colosso épico, a lembrar uma The Promise (Mother Earth). Composição épica, melodia negra e opressiva, letra de contornos obscuros e inspiração num livro de autoria de Dan Brown bem conhecido do mundo ocidental. Tudo o que esperamos de uma faixa épica está presente – entrada majestosa, coros gregorianos em profusão e cantando em latim, guitarras adicionando peso e uma das melhores interpretações líricas por parte de Sharon. Este tema leva-nos, em certos pontos, de volta às origens da banda, com a bateria a soar agradavelmente semelhante aos seus primórdios sonoros.

Forgiven é mais uma das baladas atípicas que esta banda tão bem sabe criar. Martjin Spierenburg ao piano e Sharon na voz, pouco mais é necessário para criar um dos melhores temas da discografia da banda. Basta a belíssima composição da melodia para piano e uma interpretação doce e emocional.

Sem erguerem muito a fasquia, os WT foram um pouco mais longe com este álbum. O apurado sentido melódico que sempre possuíram é levado ao extremo neste registo que nos oferece um conjunto impressionante de refrães marcantes, letras extremamente bem construídas e melodias fortes. O destaque dado às guitarras torna este um disco com um sentimento mais obscuro, ao mesmo tempo que Sharon atinge o apogeu da sua interpretação vocal. É caso para perguntar não What Have You Done? Mas sim What Will They Do Next? Esperemos para ouvir.

18.5 valores em 20

Inês Rôlo Martins (Lua Minguante)

Line-up: Sharon den Adel (voz), Jeroen van Veen (baixo), Martijn Spierenburg (teclado), Robert Westerholt (guitarra), Ruud Jolie (guitarra), Stephen van Haestregt (bateria)

3 comentários:

gothic whisper disse...

Ok, cá vou eu outra vez! LOL

O que dizer... Apesar deste album não ser o meu preferido da banda, não posso deixar de dizer que é um album muito bom em termos de letras e instrumentos. De facto, podemos notar um amadurecimento no registo deles.

Quando ouvi pela 1ª vez What Have You Done não entrei em pânico como muitos fãs, porque sei que hoje em dia as bandas têm que fazer uma ou duas músicas que sejam mais "radio friendly" para poderem lançar como singles. Eu por acaso até gosto da música, entra no ouvido.

Deste album, as músicas que tenho sempre no meu mp3 (ou seja aquelas que tenho que ouvir sempre) são Our Solemn Hour e Forgiven.

A par com Mother Earth, um dos meus desejos é ver Our Solemn Hour ao vivo, porque é outro épico. E se a apresentação for como no Black Symphony acho que morrerei e irei para o céu muito feliz! ^__^

Uma das coisas que mais me aborrece é quando uma banda faz um album com um registo diferente àquele que os fãs estão habituados, começam logo a queixar-se e a dizer que vão deixar de ser fãs e que já não gostam da banda. Por favor... Quando eu gosto de uma banda, não quero sempre a mesma coisa. Quero criatividade e músicas diferentes. Neste ponto acho que os WT são excelentes.

E a minha pergunta é igual à vossa: O que vão eles fazer a seguir? Como vão superar o que já é perfeito?

Desejo um Bom Ano a todos, pois ainda não tinha desejado!

Ana (aka Gothic Whisper)

Senhora do Metal disse...

Ana concordo plenamente contigo. Eu acho muito importante que uma banda consiga manter a criatividade e capacidade de criação de álbum para álbum. E sem dúvida que os WT são muito bons nesse aspecto.

Quanto a veres a banda ao vivo, não será certamente este ano (eles estão em pausa durante todo este ano) mas será com certeza já num próximo:) felizmente já passaram por aqui bastantes vezes e esperemos que continuem:)

Stay tunned!

Inês Martins (Lua Minguante)

Anónimo disse...

Ola, conheci este site hoje; gostei, pois cada vez mais temos mulheres no comando dos vocais;
Olha, fã do WT maior do que eu é dificil; e vou falar uma coisa, o The Heart of Everything é na minha opinião um dos melhores albums de todos os tempos!!! Até a balada "radio friendly" What Have You Done, com o "gigante" Keith Caputo (que alias ao vivo não canta NADA),é legal.
A Sharon den Adel é SIMPLISMENTE MARAVILHOSA, eles estiveram aqui em São Bernardo no ano passado, é claro que eu fui, e quase chorei de tanta emoção. A mulher além de linda toda vida CANTA DEMAIS, não desafina, agita o tempo todo, é meiga é simpatica ....

Bem um abraço, espero participar mais vezes, parabéns pelo blog,

Alberto - Santo André - SP - Brasil